Neurologista alerta para importância de desmistificar preconceitos sobre a epilepsia
26 de março de 2021
Solidão e isolamento. Apesar dos avanços, nos dias de hoje, as pessoas com epilepsia ainda precisam enfrentar essa situação, que tem como uma das causas a desinformação. Para conscientizar a população sobre o tema, no dia 26 de março, é celebrado o Dia de Conscientização sobre a Epilepsia, criado em 2008 por Cassidy Megan, uma criança canadense de apenas nove anos. Nesta data, as pessoas ao redor do mundo são convidadas a roxo, cor que simboliza esse sentimento de solidão e isolamento.
A neurologista Ivana Silva da Cruz, médica cooperada da Unimed João Pessoa, aconselha a comunidade a ser informar mais sobre o tema, que ainda é visto como tabu. “Ainda há muito preconceito, não só da sociedade, mas também dos próprios pacientes. Por isso, é necessário informar e conscientizar a população”, diz a médica.
A epilepsia é um distúrbio neurológico que se caracteriza pelo funcionamento anormal do cérebro, em que há descargas elétricas de modo errático, que causam alterações no comportamento. “Por muito tempo, a doença foi associada à loucura e possessão e até chegaram a acreditar que era contagiosa. Por isso, muitas pessoas se afastavam”, explica Ivana.
O diagnóstico, segundo a neurologista, é basicamente clínico, baseado no histórico do paciente, mas são solicitados exames complementares para afastar a hipótese de convulsões não-epilépticas, pseudocrise epiléptica ou até mesmo uma síncope.
Causas – Entender o que é, saber as causas e como lidar em casos de crise de epilepsia é fundamental para desmistificar o transtorno. “O motivo varia de acordo com a idade do paciente. Em bebês de até dois anos, é ocasionada pela má-formação congênita no cérebro ou hemisférios cerebrais, lesões durante o parto e problemas metabólicos congênitos”, explica. “Já entre dois e 14 anos, não há uma causa conhecida e chamamos de epilepsia idiopática. Em adultos, a epilepsia pode ser causada por traumatismo cranioencefálico, abstinência de álcool, tumores e AVCs. Nos idosos, tumores e AVCs são os fatores mais comuns”, detalha a especialista.
A epilepsia pode ser generalizada, quando o paciente perde a consciência, ou parcial, em que há uma crise motora com movimentos involuntários de membros. “A pessoa pode ou não desmaiar. Alguns podem apresentar movimentos involuntários de braços e pernas, modificações na fala, alucinações, mastigação involuntária, ficar rígido e ter abalos musculares sem perda do tônus, assim como a alteração rápida da consciência”, lista a médica.
Estímulos externos, principalmente sons repetitivos, luzes brilhantes, videogames, podem causar crises convulsivas, até mesmo não epilépticas. “Para uma pessoa com epilepsia, além desses impulsos, o estresse e privação do sono também podem desencadear crises”, alerta.
O tratamento é realizado com medicamentos anticonvulsivantes e, em alguns casos, com cirurgia para implante de um estimulador de nervo vago, além de restrição de dieta. “A crise pode ser evitada, mas a doença não. O paciente pode se curar e ficar sem crises se começar o tratamento precocemente, mas em alguns casos será preciso tomar medicamento por toda a vida, mesmo seguindo uma rotina normal”, diz Ivana.
O que fazer em uma crise – O principal papel de quem auxilia uma pessoa em crise epilética é evitar que ela fique ferida, principalmente quando desmaia, fica rígida ou sofre abalos musculares. “É preciso tirar os objetos próximos que possam machucar e manter a pessoa preferencialmente de lado ou deitada com a cabeça de lado para que não sufoque com a saliva. Não se deve colocar nenhum objeto na boca”, explica a neurologista.
“Também é importante tentar manter confortável e, caso a crise cesse em até 5 minutos, deixá-la relaxar, pois às vezes pode ficar confusa e sonolenta. Porém, se demorar mais que isso, é preciso acionar o serviço de emergência, pois o paciente pode estar entrando em estado de mal epilético”, orienta Ivana Cruz.