A saúde da mulher nos dias atuais
17 de março de 2021
Dia Internacional da Mulher, é um dia de muitos avanços e conquistas a comemorar, no entanto, ainda existem muitas vulnerabilidades exclusivas do sexo feminino que ainda precisam ser superadas.
No que diz respeito à saúde da mulher, infelizmente, apesar dos incontestáveis avanços da medicina e do acesso à saúde para muitas de nós, ainda é muito alto o número de mulheres que padecem de doenças cuja prevenção é simples e básica. É inconcebível que tantas mulheres ainda morram de câncer de mama e de colo uterino, que cerca da metade das gestações ainda sejam não planejadas.
São condições totalmente passíveis de prevenção e só a negligência justifica essa realidade que deve ser lamentada e lembrada no dia em que o mundo chama atenção ao papel da mulher na sociedade. Negligência essa que é social, que está presente quando a mulher não tem espaço no seu horário para cuidar-se, quando ela é proibida de buscar assistência à sua saúde, quando o serviço de atenção básica não está acessível, condição que se intensificou no contexto da pandemia da COVID-19, mas que precisa ser combatida e superada.
Na maioria dos casos, para uma mulher morrer por câncer de mama, são necessários anos sem diagnóstico e tratamento. No Brasil, para o ano de 2019, mais de 18 mil mulheres morreram pela doença. Nas fases iniciais do câncer de mama, a mulher não apresenta nenhum sintoma. A triagem é feita através da mamografia a partir dos 40 anos (Sociedade Brasileira de Mastologia) ou dos 50 anos (Ministério da Saúde). Esse exame permite o diagnóstico precoce, o que é fundamental para a cura da doença.
Já o câncer de colo uterino, que foi motivo de mais de 6.500 mortes de mulheres no Brasil (INCA), é um dos poucos tipos de câncer em que o exame de rotina é capaz de impedir que ele apareça. Não estou falando sobre dar o diagnóstico precoce(o que também é possível), mas de, efetivamente, identificar lesões e tratá-las antes de se tornarem câncer, antes de qualquer sintoma. Isso é feito através de um exame de rotina, simples, de baixo custo como a colpocitologia oncótica (também chamado Papanicolau, exame de lâmina, citológico) que fornece informações importantes sobre a existência de lesões que possam evoluir para o câncer cervical. Tais lesões podem ser identificadas através de outro exame simples que é a colposcopia e, uma vez identificadas e removidas, interrompe-se o curso de uma história que hoje representa a 3ª causa de morte de mulheres por câncer no Brasil (INCA, 2019).
Outra situação que, apesar de tantos avanços, muitas mulheres ainda enfrentam, é a gravidez não planejada. Só quem passou por essa situação sabe como é devastadora para a mulher ver-se grávida sem ter planejado e ter que enfrentar uma mudança de projetos, do seu corpo, da sua vida. Infelizmente, muitos desses casos robustecem os índices de abortos clandestinos, de mortalidade materna, de abandono, de depressão pós parto, entre outros agravos à mulher e o seu entorno. Condição também passível de ser evitada através das tantas opções disponíveis e acessíveis na realidade atual, cujo aconselhamento contraceptivo permitirá o encontro da (s) opção(ões) mais adequada(s) a cada mulher/casal.
Em resumo, na saúde da mulher, avançamos muito em possibilidades de cuidado, de prevenção, porém avançamos pouco nos resultados que tais possibilidades efetivamente poderiam representar. A resistência à consulta ginecológica de rotina ou a falta de acesso a ela é uma das principais causas dessa realidade.
Para isso, usemos o hoje, os espaços de informação e os canais de acesso para que nossas mulheres sejam informadas de que não devem esperar os sintomas ou adoecerem para buscar ajuda. Que elas se sintam acolhidas, motivadas e sobretudo priorizadas para fazerem uma coisa simples que é cuidar-se através da prevenção.
Gilka Paiva Oliveira Costa | CRM-PB: 4165 | Ginecologia e obstetrícia