Por Novos Futuros: a vibrante força do artesanato
Renata Câmara destaca a crescente valorização do artesanato brasileiro, especialmente no Nordeste, pela sua riqueza cultural e originalidade e menciona o reconhecimento internacional recente e o aumento no número de artesãos, principalmente mulheres.
16 de maio de 2024
Das passadeiras de mesa bordadas às passarelas da moda, o artesanato há muito vem quebrando barreiras de percepção e valor pelos olhares de quem tem poder de compra. As tipologias super diversificadas que povoam o território brasileiro, especialmente o nordestino, fazem parte do imaginário popular, se encravam nos costumes e tradições culturais e é aí mesmo que mora a oportunidade para centenas de artesãos e artesãs que vivem desta atividade.
Para citar um fato mais recente envolvendo a força atual do artesanato, não só aqui no Brasil, aconteceu em abril, o Prêmio de Excelência Artesanal para a América do Sul, um certame que se realiza de dois em dois anos, organizado pelo Conselho Mundial do Artesanato (CMI). Além do Brasil, os países que concorreram ao selo de Reconhecimento de Excelência do Conselho e da Unesco foram Bolívia, Chile, Equador, Uruguai, Peru e Paraguai. Com exceção da Bolívia, todos garantiram o reconhecimento.
Foram 96 peças inscritas de sete países (16 do Brasil), com a participação de um júri internacional selecionado pelo CMI. Conquistaram o Reconhecimento de Excelência da Unesco e CMI o Brasil, com duas peças, além de Peru (1), Paraguai (1), Uruguai (1), Equador (1) e Chile (10). Uma das peças do Brasil veio das mãos de Marlene Leopoldino, rendeira paraibana, de Monteiro, município já antes reconhecido como cidade mundial do artesanato da renda renascença. Uma echarpe colorida, chamada Fular Pescado, com design arrojado, foi premiada pela sua qualidade, inovação e acabamento.
A conquista de prêmios por parte de artesãos brasileiros e nordestinos tem sido cada vez mais recorrente, num movimento que alia a tradição do fazer artesanal herdado de muitas gerações atrás com técnicas inovadoras e abordagens conceituais apresentadas por designers e estilistas.
O país tem hoje cerca de 8,5 milhões de artesãos segundo o Sebrae, sendo a maioria constituída de mulheres que vivem diretamente da própria produção. O setor representa aproximadamente 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano. Após a pandemia do covid, a força do artesanato teve novo impulso.
De acordo com alguns dados oficiais do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro, o Sicab, somente no último levantamento divulgado em 2022, o número de artesãos mais que dobrou. A plataforma, que à época concentrava mais de 190 mil profissionais do segmento, recebeu quase 3.000 novos ingressantes.
Há um movimento de consumo na contramão dos produtos de produção em escala, que mesmo contando com os recursos de marketing e posicionamento de mercado para ganhar a mente e o bolso dos consumidores, vai ao encontro de produtos mais originais, exclusivos do ponto de vista da criação, da autenticidade e aspectos de regionalidade.
Há de se convir que os produtos artesanais resguardam características peculiares, que aguçam a memória afetiva a pessoas e lugares, conectam consumidores a histórias de vida e valorizam tradições carregadas de originalidade e que conectam as novas gerações a produtos muito genuínos desde a sua concepção.
Barro, renda, fios, palha, escamas, madeira, não importa a matéria-prima. Tudo pode ser insumo para a criatividade de uma mão artesã empreendedora. Que venha cada vez mais reconhecimento para o artesanato, em forma de prêmios, mas principalmente em decisões de compra para que esta atividade que sustenta milhares de famílias possa se perpetuar por muito mais tempo.
Sobre Renata Câmara
Graduada em Comunicação Social, com MBA em Marketing (FGV) e Mestrado Profissional em Jornalismo (UFPB). Pós-graduanda em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular (PUC/RS). Atualmente, é analista de Educação Empreendedora no Sebrae Paraíba.