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Foto: Divulgação

Desafios das Geradoras: primarizar ou terceirizar em parques eólicos

Decisão sobre a estratégia de O&M é complexa e envolve o controle de ativos que valem bilhões, apontam especialistas da AQTech e TWPL

28 de fevereiro de 2024

O atual modelo do Setor Elétrico Brasileiro, aprovado em 2004, coincide com o período em que o Brasil abriu espaço para o mercado de energia eólica onshore. Desde então, a matriz energética vem passando por transformações significativas, com o segmento eólico superando 25GW de potência instalada no país. Passados 20 anos desde a reforma, o número de turbinas eólicas que estão saindo da garantia do fabricante é crescente, fazendo com que cedo ou tarde as geradoras se perguntem: é melhor primarizar ou terceirizar a gestão de Operação e Manutenção (O&M) dos parques eólicos?

Segundo especialistas, não existe uma resposta certa para a questão, mas é possível chegar a uma definição mais assertiva com o respaldo de dados e informações técnicas e financeiras. A tomada de decisão deve começar a ser pensada com no mínimo um ano e meio de antecedência para estudo, planejamento e execução. Isto porque a operação é complexa e engloba várias fases, como provisões financeiras, formação e contratação de mão de obra, diagnóstico dos ativos, estrutura e suporte, cadeia logística e de estoque, área de inteligência, cronograma de ações, que irão garantir a manutenção do parque e o cumprimento das estratégias de eficiência energética.

Thiago Kleis, Global Sales Executive da AQTech — referência em tecnologias nacionais de monitoramento e diagnóstico de ativos de energia —, aponta que o momento de inflexão ocorre porque as turbinas são instaladas e permanecem seus primeiros anos resguardadas pelo próprio fabricante. Entretanto, muitas máquinas do setor já estão ou estarão saindo da garantia em breve e, nesses casos, as empresas precisam optar pelo melhor modelo de gestão, que pode ser a manutenção do serviço de O&M com o fabricante da turbina, poder ser a contratação de um ISP (Independente Service Provider) ou então internalizar a gestão de O&M.

 

Também é possível a adoção de políticas mistas de O&M, como, por exemplo, terceirizar apenas as manutenções preventivas e corretivas, enquanto o dono do ativo tem a responsabilidade de reposição de grandes componentes.. “Alguns dos grandes desafios para essa tomada de decisão é a necessidade de capital, experiência técnica e suporte tecnológico para acessar e interpretar os dados de desempenho dos ativos. Quando o serviço é terceirizado com o fabricante, por exemplo, muitas vezes a obtenção de dados é difícil, deixando os gestores com uma visão limitada da condição das turbinas”, afirma.

 

Por outro lado, quando a opção é primarizar o parque, é necessário investir em uma estrutura interna 100% dedicada ao acompanhamento das máquinas. “É preciso formar um time de especialistas, além de buscar fornecedores de tecnologias capazes de coletar dados e distribuir informações precisas sobre o funcionamento das máquinas”.

Um bom exemplo de mercado é o Centro de Análise de Condição (CAC) da AQTech, referência nacional para monitoramento em tempo real dos ativos. A operação é composta por especialistas que atendem as demandas das geradoras na análise dos dados de condição das máquinas continuamente, e apoiam as rotinas internas de O&M durante a primarização. “No momento de primarização muitas vezes o cliente conhece pouco do ativo que estava em garantia, e podemos apoiá-lo na detecção de alterações da condição dos equipamentos de maneira mais assertiva e em estágios iniciais de falhas”, diz Emerson Lima, Head do CAC e responsável técnico pelo setor na AQTech.

Além disso, cabe à empresa mapear provedores de peças de reposição para que, em caso de quebra, as máquinas não fiquem paradas por muito tempo, porque podem gerar custos expressivos. “Trazer a gestão dos ativos para a dona dos parques eólicos pode gerar economia significativa no longo prazo. A primarização cresce em evidência à medida que as geradoras de energia ampliam sua busca por mais eficácia e eficiência, transparência, melhor custo-benefício e maior lucratividade para o negócio”, sinaliza Thiago Kleis.

Vantagens econômicas na primarização de O&M

 

Referência mundial em serviços de consultoria, educação, treinamento e de gestão de ativos, a TWPL atua desde 1995 ajudando a facilitar a tomada de decisões com valor otimizado em diferentes setores, como energia, petróleo, mineração e siderurgia. Renato Bossolan, gerente geral da Unidade de Negócios da TWPL Brasil, destaca que a primarização da gestão da manutenção de parques eólicos é uma tendência global.

“Muitas empresas estão percebendo que é vantajoso trazer de volta certas funções de O&M, porque isso impacta o controle sobre a gestão dos seus próprios ativos e pode gerar valor significativo ao negócio. Mas, a melhor escolha vai depender da realidade e particularidades de cada parque eólico”, explica.

Embora manter o O&M aos cuidados do fabricante após a garantia possa ser economicamente viável, uma análise mais profunda das variáveis envolvidas no processo demonstra que a primarização, de fato, pode gerar economia com o passar dos anos. Esses fatores dependem da localização dos parques, a disponibilidade de ferramentas de suporte locais e importados, orçamento e a expertise técnica para a atividade.

“Nem todas as empresas têm maturidade para entender e tomar a decisão de primarização, mas primarizar têm se mostrado um caminho razoável para a gestão de O&M não só no Brasil, mas no mundo todo. A decisão de primarizar um parque eólico é complexa, porque envolve questões estratégicas e ativos que valem bilhões de reais”, reforça Renato Bossolan.

Para os especialistas, quanto melhor estabelecida for a cadeia de suporte e capacidade de monitorar e diagnosticar as operações e a manutenção de máquinas, mais vantajoso será para o negócio. “Não é possível simplesmente adotar uma empresa que fez a estratégia de O&M primarizada e copiar o processo, porque os prós e contras são individuais de cada empreendimento e é isso que deve nortear a tomada de decisão”, explica o especialista.

Ele elenca como pontos-chave para o sucesso de uma estratégia de primarização a elaboração de planos de manutenção corretivas e preventivas, suas periodicidades, estabelecimento de uma cadeia de suprimentos voltada para as necessidades de cada empreendimento, dimensionamento de estoques de grandes e pequenos componentes, dimensionamento de equipes, entre outros fatores. Pensar no suporte de estoque e logística de reposição de peças também é crucial, porque quando um grande componente falha, caso não haja uma estrutura adequada, a troca pode demorar meses. “Imagine uma turbina eólica parada por cinco ou seis meses? As perdas financeiras em virtude da falta de geração de energia são gigantescas. Então é preciso ter um suporte logístico bem estruturado que garanta a operação do parque sem grandes interrupções”, conclui Renato Bossolan.

Com a primarização, a tendência é de haver gastos menores com O&M de parques eólicos porque o proprietário passa a conhecer melhor os seus ativos e pode otimizar essas rotinas de manutenção. Isso demanda um bom gerenciamento do plano de manutenção e dimensionamento efetivo de risco — o que necessita do auxílio de softwares e tecnologias preditivas especializadas em ativos energéticos.

Conforme os especialistas, não é possível cravar a economia gerada pela primarização de um parque eólico, pois depende da realidade da operação. No entanto, em média, o mercado indica a possibilidade de gerar entre 15% e 30% de economia nos custos com O&M (alguns mais outros menos), ou seja, um ganho de valor significativo. Além da redução de custos, a geração de valor pode ocorrer pela melhoria da performance ou otimização do uso de recursos para a gestão dos ativos.

 

Em um case de sucesso recente de otimização na gestão de ativos a partir de uma consultoria da TWPL, Renato Bossolan conta que o cliente conseguiu um ganho anual de aproximadamente R$ 26 milhões em seus parques eólicos. A conquista foi possível através do dimensionamento ideal de estoque de peças para reposição. Além disso, o tempo estimado de turbinas eólicas paradas por ano reduziu de cerca de 800 dias/ano somados para 121 dias/ano.

Fonte: Assessoria