Como startups brasileiras estão crescendo sem rodadas de investimento no início da jornada
Dados do Sebrae mostram que empresas com maior longevidade atuam no setor B2B, vendem software com receita recorrente e mantêm equipes enxutas
10 de dezembro de 2025
Em um cenário de capital de risco mais seletivo e startups em busca de sustentabilidade desde os primeiros passos, cresce o número de empreendedores que optam por começar negócios inovadores sem depender de investimento externo. Dados do Observatório Sebrae Startups indicam que as empresas com maior potencial de crescimento e longevidade compartilham características que viabilizam essa estratégia.
Essas startups operam majoritariamente no modelo B2B (business to business), atuam no setor de tecnologia da informação e têm como principal produto o software. Além disso, adotam modelo de receita recorrente por assinatura — como no modelo SaaS (Software as a Service) — e têm estrutura societária composta por dois a três sócios.
“O modelo B2B combinado com software e receita recorrente permite que a startup valide seu produto com rapidez, gere receita desde cedo e mantenha o controle sobre a operação”
Cristina Mieko, head de startups do Sebrae
Essas características estão mais presentes entre as startups com maior maturidade operacional e maiores faixas de faturamento. Das mais de 18 mil startups mapeadas, 50,9% atuam no modelo B2B, e 37,6% têm o software como principal produto. O modelo de assinatura (SaaS) representa 41,8% das estratégias de monetização mais recorrentes.
“O empreendedor que começa com foco em receita e sustentabilidade financeira desde o primeiro cliente tende a construir uma base mais sólida e preparada para escalar com consistência. A captação vira uma escolha estratégica, e não uma urgência”, complementa Cristina.
Eficiência antes do crescimento
Começar uma startup sem investimento externo exige disciplina financeira, foco em eficiência e desenvolvimento ágil de produto. Modelos como o lean startup — que privilegia o aprendizado validado, iteração contínua e contato direto com o cliente — ajudam a evitar desperdícios e acelerar o ajuste do produto ao mercado.
Mais de 80% das startups mapeadas pelo Sebrae Startups atuam com equipes de até três pessoas, o que evidencia uma abordagem enxuta nos estágios iniciais. “O Sebrae Startups atua exatamente nesse ponto: oferecemos ferramentas, mentorias e conexões para que o empreendedor estruture e escale o negócio com inteligência, mesmo sem capital externo no começo”, diz Cristina.
A análise do Sebrae também aponta que cerca de 30% das startups mapeadas têm mais de cinco anos de existência, um número relevante em um setor conhecido pela alta taxa de mortalidade. A longevidade está associada à adoção de modelos robustos de negócio, alinhamento entre sócios, uso de tecnologia e foco em resolver dores reais de mercado.
Com o aumento da seletividade dos investidores e maior exigência por governança e métricas de desempenho, ganhar tração com recursos próprios se torna uma vantagem competitiva. “No início da jornada, o melhor ‘investimento’ é a venda. Quando a startup vende, ela valida a proposta de valor, comprova que resolve uma dor real e gera caixa para sustentar o crescimento. Nada valida mais um negócio do que um cliente pagando”, finaliza Cristina Mieko.
Fonte: ASN