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energia solar
Foto: Divulgação

Energia solar reduz em 80% gastos com eletricidade de agricultores no Sertão da Paraíba

Projeto Comunidades Solares leva agroecologia e tecnologia a famílias de Poço de José de Moura e Poço Dantas, ressignificando o sol como fonte de renda e autonomia

4 de dezembro de 2025

O sol, historicamente associado ao sofrimento e à escassez no Sertão paraibano, tem ganhado um novo significado para agricultores e jovens de Poço de José de Moura e Poço Dantas, municípios do Sertão paraibano. A transformação aparece não apenas nos indicadores do projeto Comunidades Solares, desenvolvido pela ONG Pisada do Sertão, mas nas narrativas de quem vivenciou a iniciativa de perto — como o agricultor Elidon Silva, da comunidade de Lages, em Poço Dantas, que relata ter reduzido em 80% o gasto com energia após passar a utilizar a tecnologia solar em sua rotina agrícola.

Coordenador da iniciativa, o tecnólogo em agroecologia Pedro Alves explica que a proposta ressignifica o próprio imaginário sobre o Sertão. “Durante muito tempo, o sol foi visto como problema, mas hoje se revela como fonte de energia. O projeto vem trazendo esse novo olhar para dentro das comunidades”, afirmou.

A ação atua em duas frentes complementares. Para 60 famílias agricultoras, são ofertados cursos de agroecologia e liderança comunitária, abordando temas como manejo ecológico do solo, produção sustentável, convivência com o semiárido e organização social.

Já cerca de 80 adolescentes, entre 14 e 17 anos, participam de um curso de energias renováveis que alia teoria e prática, aproximando os jovens da tecnologia da energia solar e de atividades como robótica e experimentação científica. “Eles aprendem como a energia solar funciona, entendem seus benefícios e descobrem como essa tecnologia pode gerar oportunidades num futuro mercado de trabalho”, explicou Pedro.

Os impactos já são percebidos tanto no comportamento quanto na relação das famílias com a terra. Agricultores têm adotado técnicas sem o uso de agroquímicos, criado hortas mais saudáveis e compartilhado conhecimentos entre si de forma mais constante. “O que mais chama atenção é o sentimento de pertencimento; as famílias passam a trocar experiências, se apoiar e valorizar o que produzem”, disse o coordenador.

Como resultado das oficinas de sustentabilidade, o projeto registrou o plantio de 170 árvores nos últimos três meses, um dos indicadores de engajamento comunitário.

Entre os participantes, Elidon Silva destaca que os encontros trouxeram aprendizados que transformaram sua prática diária. Ele conta que passou a dominar processos como compostagem, manejo de pragas, criação de minhocários e sistemas de produção mais saudáveis. “Com o conhecimento adquirido, agora posso produzir alimentos mais saudáveis, como as hortaliças”, relatou. A energia solar também gerou impactos diretos na sua rotina: “Foi uma experiência muito boa, uma energia potente e uma redução do custo de energia de 80%. Agora posso usar bomba para irrigar as hortas sem pesar no bolso”, afirmou.

Elidon também implementou a criação de abelhas sem ferrão, atividade que fortalece a polinização e contribui para a produção de mel utilizado em remédios naturais — mais uma tecnologia disseminada pelo projeto. Para ele, o processo foi decisivo. “Foram dias de muito aprendizado. Muito obrigado a todos que fazem a Pisada do Sertão”, completou.

As ações contam com apoio das prefeituras dos dois municípios e do IFPB – Campus Sousa e Campus Cajazeiras, parceiros descritos pelo coordenador do projeto como fundamentais para consolidar a iniciativa. Ainda assim, ele reconhece desafios, como superar a influência da agricultura convencional, romper hábitos antigos e lidar com a falta de investimentos específicos. “Na agroecologia, o processo é mais lento; é preciso tempo e vivência prática para provar que dá certo”, afirmou Pedro Alves.

Para além da agricultura, o coordenador avalia que a juventude tem recebido bem o tema da sustentabilidade, sobretudo quando percebe resultados concretos nas comunidades. No entanto, fatores como baixa remuneração, dificuldade de acesso a crédito e ausência de opções culturais ainda limitam a permanência dos jovens no campo. “Eles se interessam e se empolgam com o que veem, mas precisamos fortalecer a agricultura familiar para que encontrem oportunidades aqui”, disse.

Pedro também aponta que o projeto tem contribuído para transformar a percepção do próprio sertanejo sobre o território. “As pessoas começam a entender que o Sertão não é só escassez. É um território estratégico para energias renováveis e cheio de potencial”, afirmou. Essa mudança, segundo ele, simboliza uma virada de chave sobre identidade, futuro e autoestima das comunidades.

Sertanejo e filho da região, Pedro destaca que participar do projeto tem significado afetivo e político. “Esse projeto me dá a chance de devolver algo à minha terra. É como ver um sonho se tornando realidade, junto com as famílias que confiam no nosso trabalho”, afirmou. Para ele, ver o sol — antes associado ao sofrimento — sendo reinterpretado como fonte de vida e oportunidade sintetiza a transformação que o Comunidades Solares busca consolidar no território.

Fonte: Assessoria