Projeto Comunidades Solares leva energia solar, agroecologia e formação cidadã a comunidades do Sertão
Iniciativa atende 60 famílias e 80 jovens em Poço de José de Moura e Poço Dantas, ressignificando o sol como fonte de energia e oportunidade
27 de novembro de 2025
O sol, historicamente associado ao sofrimento e à escassez no Sertão paraibano, tem ganhado um novo significado para agricultores e jovens de Poço de José de Moura e Poço Dantas. A mudança é impulsionada pelo projeto Comunidades Solares, desenvolvido pela ONG Pisada do Sertão, que aposta em energias renováveis, agroecologia e formação cidadã para fortalecer comunidades rurais e criar perspectivas de futuro no território.
Coordenador da iniciativa, o tecnólogo em agroecologia Pedro Alves explica que a proposta ressignifica o próprio imaginário sobre o Sertão. “Durante muito tempo, o sol foi visto como problema, mas hoje se revela como fonte de energia. O projeto vem trazendo esse novo olhar para dentro das comunidades”, afirmou.
A ação atua em duas frentes complementares. Para 60 famílias agricultoras, são ofertados cursos de agroecologia e liderança comunitária, abordando temas como manejo ecológico do solo, produção sustentável, convivência com o semiárido e organização social. Já cerca de 80 adolescentes, entre 14 e 17 anos, participam de um curso de energias renováveis que alia teoria e prática, aproximando os jovens da tecnologia da energia solar e de atividades como robótica e experimentação científica. “Eles aprendem como a energia solar funciona, entendem seus benefícios e descobrem como essa tecnologia pode gerar oportunidades num futuro mercado de trabalho”, afirmou Pedro.
Segundo ele, os impactos já são percebidos tanto no comportamento quanto na relação das famílias com a terra. Agricultores têm adotado técnicas sem o uso de agroquímicos, criado hortas mais saudáveis e compartilhado conhecimentos entre si de forma mais constante. “O que mais chama atenção é o sentimento de pertencimento; as famílias passam a trocar experiências, se apoiar e valorizar o que produzem”, disse. Como resultado das oficinas de sustentabilidade, o projeto registrou o plantio de 170 árvores nos últimos três meses, um dos indicadores de engajamento comunitário.
A mudança de mentalidade também aparece em histórias individuais. Pedro lembra a fala de Eliane, agricultora de Poço de José de Moura, que o marcou pelo simbolismo: “Ela disse algo simples, mas muito forte: ‘Minha terra é muito boa, até arroz dá’. Isso mostra orgulho, segurança alimentar e a valorização do território”.
As ações contam com apoio das prefeituras dos dois municípios e do IFPB – Campus Sousa e Campus Cajazeiras, parceiros descritos por Pedro como fundamentais para consolidar a iniciativa. Apesar disso, ele reconhece que ainda há desafios importantes, como superar a influência da agricultura convencional, romper hábitos antigos e lidar com a falta de investimentos específicos. “Na agroecologia, o processo é mais lento; é preciso tempo e vivência prática para provar que dá certo”, afirmou.
Para além da agricultura, o coordenador avalia que a juventude tem recebido bem o tema da sustentabilidade, sobretudo quando percebe resultados concretos nas comunidades. No entanto, fatores como baixa remuneração, dificuldade de acesso a crédito e ausência de opções culturais ainda limitam a permanência dos jovens no campo. “Eles se interessam e se empolgam com o que veem, mas precisamos fortalecer a agricultura familiar para que encontrem oportunidades aqui”, disse Pedro.
Pedro também aponta que o projeto tem contribuído para transformar a percepção do próprio sertanejo sobre o território. “As pessoas começam a entender que o Sertão não é só escassez. É um território estratégico para energias renováveis e cheio de potencial”, afirmou. Essa mudança, segundo ele, simboliza uma virada de chave sobre identidade, futuro e autoestima das comunidades.
Sertanejo e filho da região, Pedro destaca que participar do projeto tem significado afetivo e político. “Esse projeto me dá a chance de devolver algo à minha terra. É como ver um sonho se tornando realidade, junto com as famílias que confiam no nosso trabalho”, afirmou. Para ele, ver o sol — antes associado ao sofrimento — sendo reinterpretado como fonte de vida e oportunidade sintetiza a transformação que a iniciativa busca consolidar no território.
Fonte: Assessoria