Jampa Gastronomia: Polo Turístico Cabo Branco pode redefinir o futuro gastronômico da Paraíba
Paulo Nascimento fala de empreendimentos como Tauá Resort e WAM Experience que projetam mais de 1.500 vagas em gastronomia e valorização da culinária regional
27 de novembro de 2025
O Polo Turístico Cabo Branco, em João Pessoa, começa a ganhar contornos de um dos mais ambiciosos projetos de desenvolvimento turístico do Nordeste e, possivelmente, do Brasil. Embora idealizado há mais de quatro décadas, foi apenas nos últimos anos que o projeto deixou de ser promessa e passou a ser um organismo vivo, movido por investimento maciço, estabilidade regulatória e uma articulação inédita entre governo e iniciativa privada.
Mas por trás de resorts monumentais, parques aquáticos e os mais de R$1 bilhão já previstos em investimentos, surge um elemento estratégico que pode se tornar o coração do empreendimento: a gastronomia.
Com o setor no estado sendo o quinto maior do país, podemos subir a posição no ranking com a chegada do Polo, mas é aquilo: se a culinária dos restaurantes do empreendimento não seguir uma regionalidade paraibana, eles irão ficar para trás.Porque o turista e o os paraibanos, não vão largar o tempero nordestino por uma “gourmetização” europeia.
Os investimentos
O Tauá Resort, a maior da rede do empreendimento que sozinho injeta R$500 milhões no território, o complexo WAM Experience que chega perto disso, com R$480 milhões aplicados em hotelaria, varejo e entretenimento. Ao todo, dez grandes empreendimentos já assinaram contrato e operam em fase avançada de obra.
O que poucas análises exploram, porém, é a consequência direta desse padrão de investimento: todo esse luxo precisa comer e comer bem.
O Tauá prevê oito restaurantes, cinco bares, dois lounges e um espaço totalmente dedicado à cozinha regional. A proporção é algo jamais visto na Paraíba: quanto maior o resort, maior a necessidade de manter o hóspede consumindo dentro dele e quanto mais sofisticado o público, maior a exigência gastronômica.
Isso transforma a gastronomia em ativo estratégico e inaugura um desafio que a Paraíba nunca enfrentou que é oferecer, de forma sustentável, gastronomia de padrão internacional para milhares de visitantes simultaneamente e sem perder as raízes nordestinas, porque um empreendimento em terras pessoenses, é esperado que a culinária de alto padrão tenha temperos locais.
A Vila Gastronômica
Se os resorts operam com gastronomia cativa, o WAM Experience adiciona mais ineditismo ao projeto: a Vila Gastronômica aberta ao público, integrada a um Open Mall.
É aqui que o Polo Turístico Cabo Branco deixa de ser apenas um destino hoteleiro e passa a disputar protagonismo com bairros tradicionais de João Pessoa, como Cabo Branco, Manaíra e Tambaú.
Na prática, cria-se um novo eixo urbano de consumo, onde moradores locais, turistas e hóspedes circulam e se misturam. É uma vitrine para novos players gastronômicos e, ao mesmo tempo, um polo de pressão competitiva que pode reordenar o mapa culinário da cidade.
Em conversa com a secretária de Turismo e Desenvolvimento, Rosália Lucas, ela relatou que o Estado está trabalhando em rotas gastronômicas para valorizar a culinária paraibana. Segundo ela, o projeto terá início no Boulevard dos Ipês, um empreendimento no Polo, cuja entrega está prevista para o próximo ano. Caso isso se concretize, será muito positivo para o setor, pois haverá a união de grandes estruturas, visitação turística e valorização da culinária regional, apreciada especialmente pelo turista que vem ao Nordeste em busca dessa experiência. Podem existir grandes empreendimentos, mas o que realmente mantém o turista em um destino é a gastronomia.
Empregos
Enquanto o Governo do Estado projeta 40 mil empregos no Polo, a análise setorial revela uma demanda específica que merece destaque: o setor de Alimentos e Bebidas pode absorver sozinho entre 1.500 e 2.000 profissionais diretos, considerando apenas os grandes empreendimentos já contratados.
Somente no Tauá, pelo padrão internacional da indústria hoteleira, cerca de 30% do quadro funcional deve se dedicar à gastronomia, o que resulta em aproximadamente 300 vagas nesse único resort.
A Paraíba, que já enfrenta escassez de mão de obra qualificada em gastronomia e hotelaria, agora precisa formar rapidamente:
- Chefs e Sous Chefs
- Sommeliers
- Gerentes de A&B
- Bartenders
- Especialistas em cozinha regional
- Profissionais de operação e base
O desafio é urgente: os resorts começam a abrir as portas já em 2026 a 2027.
Incentivos, infraestrutura e o desafio da qualidade
Um ponto muitas vezes subestimado é o ambiente de negócios cuidadosamente arquitetado para atrair operadores gastronômicos. A redução do ISS de 5% para 2% cria um cenário altamente lucrativo para novos restaurantes, sobretudo em um setor historicamente pressionado por margens apertadas.
Somado a isso, o Polo chega com infraestrutura pronta com água, gás, saneamento, energia e fibra óptica. Para operar gastronomia de médio e grande porte, isso não é detalhe técnico: é redução direta de risco e economia imediata de capital.
Há, porém, um paradoxo a observar: se o Polo se tornar o lugar mais barato e moderno para abrir restaurantes, poderá drenar investimentos gastronômicos de outras áreas da capital, redesenhando o ambiente competitivo da cidade. Mas não é isso que a maioria do setor acredita, em levantamento da Revista Jampa Gastronomia, mostrou que a maioria dos chefes acreditam que o impacto do Polo será misto, onde não irá prejudicar tanto os pequenos negócios e dará mais visibilidade a culinária paraibana.
O impacto cultural
Empreendimentos como o Amado Bio & Spa Hotel anunciam menus voltados a ingredientes orgânicos e cadeias de suprimentos sustentáveis. O Tauá cria um espaço exclusivo para culinária regional. O discurso é alinhado à sustentabilidade, mas ainda resta saber se, na prática, a Paraíba terá capacidade produtiva para atender um complexo turístico dessa escala sem descaracterizar seus insumos nem precarizar seus pequenos produtores.
A gastronomia pode abrir portas extraordinárias para fornecedores locais, mas também pode, se mal regulada, concentrar ganhos e importar produtos, enfraquecendo a identidade alimentar da região.
O equilíbrio entre luxo internacional e territorialidade paraibana será decisivo para o sucesso cultural do projeto.
O Polo como o futuro gastronômico do Nordeste
O Polo Turístico Cabo Branco tem potencial para se tornar o novo epicentro da gastronomia premium do Nordeste, reposicionando João Pessoa no mapa do turismo de alto padrão, mas seu sucesso depende de três pilares fundamentais: a formação acelerada de mão de obra qualificada, pois sem chefs, garçons, gerentes e especialistas preparados toda a estrutura perde sustentação, a integração real com a produção local, garantindo que a culinária regional seja mais que discurso e se baseie em uma cadeia produtiva sólida; e uma relação de competição saudável com a gastronomia já existente na cidade, para que o Polo eleve o nível do setor sem drenar talentos, investimentos e público dos polos consolidados.
Refletir sobre o Polo Turístico Cabo Branco é entender que a gastronomia, mais do que uma engrenagem econômica, é um elemento cultural capaz de definir a identidade de um destino. Se o Polo conseguir harmonizar luxo e territorialidade, inovação e tradição, ele poderá não apenas movimentar bilhões ou atrair turistas, mas também fortalecer o orgulho local, gerar pertencimento e criar uma vitrine para a culinária paraibana diante do Brasil e do mundo. Caso contrário, corre o risco de se tornar apenas mais um grande complexo turístico desconectado de sua própria terra. A forma como esse equilíbrio será conduzido dirá muito sobre o futuro da Paraíba enquanto referência gastronômica.

Divulgação
Sobre Paulo Nascimento
Apaixonado por histórias e sabores, Paulo é estudante de Jornalismo na Paraíba e iniciou a carreira em portais voltados à economia e lifestyle, onde aprendeu a valorizar o olhar atento sobre o cotidiano. Recebeu a Comenda Mário Tourinho de Imprensa por uma reportagem inovadora e já participou de coberturas em eventos de diferentes áreas. Hoje, integra a equipe da TV Correio e escreve sobre gastronomia, paixão despertada em workshops do Estadão e do Paladar. Agora, assume o cargo de editor e colunista da Jampa Gastronomia.
Fonte: Paulo Nascimento
