Brasil atinge os melhores resultados na economia popular em 30 anos, aponta Ipea
Melhor taxa de emprego, melhor recuperação da renda do trabalho e maior queda na pobreza desde 1995. Instituto analisou dados do IBGE e diz que há muito por fazer, mas que o caminho está dado
26 de novembro de 2025
O Brasil alcançou em 2024 os melhores resultados de renda, desigualdade e pobreza de toda a série histórica de pesquisas domiciliares. A conclusão está em nova nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que analisa os levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 1995. O estudo, publicado nesta terça-feira (25/11), é assinado pelos pesquisadores de planejamento e pesquisa Pedro Herculano Souza e Marcos Dantas Hecksher.
Segundo os autores, ao longo dessas três décadas a renda domiciliar per capita aumentou cerca de 70%, enquanto o coeficiente de Gini caiu quase 18% e a taxa de extrema pobreza recuou de 25% para menos de 5%.
Eles destacam que o progresso não foi linear: concentrou-se sobretudo entre 2003 e 2014 e voltou a ganhar força entre 2021 e 2024. Em 2024, todos os indicadores — renda média, desigualdade e pobreza — alcançaram os melhores níveis já registrados pelas pesquisas domiciliares do país.
O texto da nota técnica relembra ainda que o Brasil enfrentou um ciclo prolongado de crises entre 2014 e 2021, marcado por recessão, lenta recuperação e forte impacto da pandemia. Em 2021, a renda per capita atingiu o menor patamar em uma década. A partir de então, o movimento se inverteu: entre 2021 e 2024, a renda média cresceu mais de 25% em termos reais — o maior avanço em três anos seguidos desde o Plano Real — acompanhado por reduções expressivas nos indicadores de desigualdade.
“Os resultados mostram que é possível reduzir intensamente a pobreza e a desigualdade, mas que esses movimentos também podem ser interrompidos ou mesmo revertidos por vários fatores. E que é importante combinar diferentes meios para alcançar esses objetivos fundamentais do país”, destacou Hecksher, um dos autores do estudo.
Trabalho e assistência impulsionam melhora social
As decomposições realizadas pelos pesquisadores mostram que a melhora entre 2021 e 2024 foi impulsionada por dois fatores equivalentes: o aquecimento do mercado de trabalho e a expansão das transferências assistenciais. Ambos responderam, cada um, por quase metade da redução da desigualdade e da queda da extrema pobreza no período. Os autores apontam que as políticas de transferência, incluindo Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada, Auxílio Brasil e Auxílio Emergencial, tornaram-se mais efetivas na redução das desigualdades, sobretudo após 2020.
O estudo observa que, apesar desse impacto, o efeito dinâmico das transferências diminuiu no biênio 2023–2024, refletindo o fim do ciclo recente de expansão. Ainda assim, o mercado de trabalho manteve forte influência sobre a melhora dos indicadores, respondendo pela maior parte da redução adicional da pobreza e da desigualdade nesse período.
“As desigualdades precisam ser combatidas por meio de todas as políticas públicas. Não apenas por melhor direcionamento de gastos sociais aos mais pobres, mas também por uma distribuição mais justa dos impostos. É importante promover a produtividade do trabalho dos mais pobres e, ao mesmo tempo, reduzir a fatia dos recursos públicos que precisa ser destinada ao pagamento de juros da dívida pública aos mais ricos˜, completa Hecksher.
Menores níveis de pobreza da série histórica
Com a combinação de crescimento econômico e queda da desigualdade, o país atingiu em 2024 os menores níveis de pobreza já registrados pelas pesquisas domiciliares. Apesar disso, 4,8% da população ainda vivia abaixo da linha de extrema pobreza (US$ 3 por dia), e 26,8% estava abaixo da linha de pobreza (de US$ 8,30 por dia). A redução acumulada desde 2021 foi especialmente intensa no primeiro ano da retomada pós-pandemia, mas manteve ritmo elevado até o final da série analisada.
Esses avanços foram resultado tanto do aumento da renda média quanto da mudança na própria distribuição de renda. No caso da extrema pobreza, mais de 60% da queda entre 2021 e 2024 decorreu da melhora distributiva, segundo a decomposição utilizada pelos autores.
Perspectivas e limites
A nota técnica aponta que, diante do fim do ciclo de expansão das transferências assistenciais, o ritmo de avanço observado no pós-pandemia tende a arrefecer,
tornando o mercado de trabalho ainda mais determinante para os resultados sociais nos próximos anos.
Os autores também reforçam que pesquisas domiciliares costumam subestimar rendimentos muito altos e parte das transferências sociais, motivo pelo qual os números devem ser interpretados com cautela.
Mesmo com essas limitações, a análise conclui que o período recente representa uma mudança estrutural importante: depois de anos de retrocesso ou estagnação, os indicadores sociais voltaram a melhorar de forma simultânea e acelerada.
Fonte: Agência Gov