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viviane mosé
Foto: Divulgação

Viviane Mosé: “A Medicina não pode se limitar a cuidar dos outros, precisa também aprender a cuidar de quem a pratica”

Filósofa traz reflexões com a palestra "O Valor da Vida", em evento promovido pela Afya Paraíba

20 de novembro de 2025

Entre diagnósticos, protocolos e tecnologias cada vez mais precisas, é fácil esquecer que, por trás do jaleco, existe um ser humano. Foi sobre esse olhar, o do médico que sente, erra e também precisa de cuidado, que a filósofa, psicanalista e poetisa Viviane Mosé conduziu a palestra durante o III Congresso Internacional Médico Estudantil (MEDX 2025), promovido pela Afya Paraíba, com o tema “O Valor da Vida”.

Com mais de dez livros publicados e duas indicações ao Prêmio Jabuti, Viviane é conhecida por unir filosofia e emoção em reflexões que tocam o essencial: o sentido da existência. Na entrevista que segue, Viviane fala sobre a experiência de dialogar com futuros médicos, o papel da filosofia na formação de profissionais mais conscientes e a necessidade de repensar o cuidado.

Como foi, para a senhora, receber o convite da Afya Paraíba para participar de um evento que amplia a visão sobre o que é ser médico?

Trabalhar com médicos não é novidade para mim. Tenho feito isso há muitos anos, porque o tema central do meu trabalho filosófico é a vida, não a civilização. A civilização é esse jogo em que tudo precisa se encaixar, mas a vida é outra coisa, é o que recebemos ao nascer e devolvemos ao morrer. O que é a vida? Qual é a nossa relação com a existência? Os médicos precisam muito desse tipo de reflexão, porque, antes de tudo, o médico é uma pessoa. Muitas vezes esquecemos disso. Cobramos deles precisão, correção, perfeição, como se não pudessem errar. Mas eles são humanos. Lidar com a perda de um paciente, com o nascimento de uma criança, tudo isso mexe profundamente com quem escolheu cuidar. Precisamos cuidar também dos médicos, com poesia, com literatura, com filosofia, para que continuem fortes. Por isso adorei o convite e aceitei de imediato.

O que significa, para a senhora, “valor da vida” em um contexto onde a medicina é tão tecnificada e voltada para resultados mensuráveis?

A sensibilização dos médicos é muito importante, e acredito que isso vai acontecer cada vez mais. As formações são muito exigentes, e o tempo dedicado ao estudo do corpo e da mente humana é tão grande que sobra pouco espaço para o que realmente conforta: a arte, a música, a poesia, a dança e o convívio. O convite da Afya para esta palestra e o fato de eu estar aqui já representam esse novo olhar sobre a Medicina. Não dá para enxergar o médico como se fosse um engenheiro ou um arquiteto. Ele precisa de uma formação humana, humanista. Caso contrário, cuida dos outros, mas não de si mesmo. Chega de médico doente. A Medicina não pode se limitar a cuidar dos outros, precisa também aprender a cuidar de quem a pratica.

Como a filosofia pode contribuir para a formação de profissionais mais sensíveis e conscientes?

Os médicos, cada vez mais, vão precisar, especialmente com o avanço da inteligência artificial e das novas tecnologias, se dedicar a essa concepção filosófica sobre a vida, sobre o nascer e o morrer, sobre o tempo que passa. A vida é uma passagem, mas a gente vive como se fosse eterna, buscando roupa, sapato, curtida em rede social. Só que a vida não é isso.

Fonte: Vivass Comunicação