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salário, reonera
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Especialista orienta uso consciente do 13º para evitar endividamento no início do ano

Planejador financeiro Jeff Patzlaff recomenda modelo 50/30/20: 50% para dívidas, 30% para lazer e 20% para investimentos e reserva

28 de outubro de 2025

om a aproximação do pagamento do décimo terceiro salário, muitos brasileiros já fazem planos para o dinheiro extra que chega no fim do ano. Para alguns, o valor representa uma chance de colocar as contas em dia. Para outros, é sinônimo de consumo, festas e viagens. De acordo com Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP® e especialista em investimentos, a forma como o décimo terceiro é usado pode definir se ele será um aliado da saúde financeira ou o primeiro passo para o endividamento.

“O décimo terceiro, que muitos brasileiros aguardam ansiosamente no fim do ano, pode ser um aliado poderoso para a saúde financeira ou um inimigo, dependendo de como é utilizado”, afirma Patzlaff. Ele alerta que um dos principais erros cometidos é tratá-lo como um dinheiro extra para presentes, festas e viagens, sem considerar obrigações futuras ou dívidas já existentes. Essa visão imediatista, segundo o especialista, tem levado muitas famílias a iniciar o ano seguinte já endividadas.

Outro equívoco comum é deixar o dinheiro parado na conta corrente, perdendo valor ao longo do tempo. “Hoje a inflação está em mais de 5% no ano, então o seu dinheiro já vale menos do que há 12 meses”, destaca Patzlaff. Ele também chama atenção para o risco de aplicar os recursos em produtos inadequados, sem avaliar fatores como risco, liquidez e taxas, o que pode comprometer o rendimento e até gerar prejuízos.

Uma dúvida recorrente entre os brasileiros é se vale mais a pena usar o décimo terceiro para quitar dívidas ou investir. Para o planejador, a resposta depende do custo das dívidas em comparação com o potencial retorno dos investimentos. “Se as dívidas envolvem cartão de crédito ou cheque especial, que chegam a cobrar 449,9% ao ano no caso de cartão e do cheque especial 135,5% ao ano, a prioridade deve ser eliminá-las, já que nenhum investimento conservador supera esse custo”, diz.

Mesmo com a taxa Selic elevada, em 15% ao ano, e com boas oportunidades na renda fixa, o especialista lembra que esses ganhos não compensam o peso de dívidas com juros abusivos. Por isso, o passo mais inteligente é organizar o uso do dinheiro em etapas: primeiro quitar dívidas caras, depois direcionar parte para investimentos e, por fim, reservar uma fração para lazer ou objetivos pessoais.

“A melhor estratégia é dividir o valor recebido, assim tudo fica equilibrado, reservar uma fração para comemorações/lazer, outra para dívidas caso existam, e, se possível, uma parte para investimentos/reserva de emergência”, explica Patzlaff.

Para quem busca uma referência prática, ele recomenda o modelo 50/30/20: “Recomendo dividir o valor em proporções claras, como 20% para investir, 30% para lazer, sonhos, presentes e 50% para dívidas/contas que vão pesar no orçamento no começo do mês, ajustando conforme a situação de cada um.” O especialista reforça que o segredo é agir com disciplina logo no recebimento. “Funciona muito bem direcionar o dinheiro na sua determinada ‘caixinha’ logo no recebimento para não cair na tentação de gastar tudo. Se recebeu o valor, já direciona 20% para os investimentos e 50% para o pagamento das contas”, sugere.

Nesse processo, o autocontrole e o autoconhecimento são essenciais. “Cada compra deve ser avaliada não apenas pelo desejo imediato, mas pelo impacto nas finanças futuras”, orienta o planejador.

Patzlaff lembra ainda que a decisão entre investir em metas de curto prazo, como uma viagem, ou de longo prazo, como aposentadoria e reserva de emergência, deve levar em conta a situação de cada pessoa. “Quem ainda não possui uma reserva de emergência, deve priorizá-la antes de pensar em viagens ou consumo, pois imprevistos sem poupança podem forçar a tomada de crédito caro”, afirma.

Para quem está começando a formar essa reserva, o especialista indica opções de baixo risco e alta liquidez: “Opções mais assertivas são CDBs e caixinhas de bancos seguros, Tesouro Selic, que é investimento conservador do governo, além de fundos de renda fixa conservadores, ou seja, aqueles investimentos atrelados à Selic/CDI”. Segundo ele, com a Selic elevada, essas aplicações oferecem rendimentos interessantes sem expor o investidor a grandes riscos.

Outra recomendação importante é antecipar os gastos de início de ano, como IPTU, IPVA e matrícula escolar. Patzlaff destaca que muitos brasileiros subestimam esses custos e acabam recorrendo ao cheque especial ou parcelando as despesas, o que compromete o orçamento. “Colocar esse dinheiro em aplicações seguras e líquidas, como CDBs com resgate rápido, garante tranquilidade e evita endividamento”, diz.

Para quem nunca conseguiu guardar parte do décimo terceiro, o especialista diz que a mudança deve começar pela mentalidade e pela criação de hábitos. Ele sugere medidas práticas: “Planejar a divisão antes de receber o salário, automatizar transferências para contas de investimento, utilizar aplicativos que facilitam a visualização como o Mobills ou o Minhas Finanças e começar com pequenas metas pode fazer você chegar ao seu objetivo com mais tranquilidade”, afirma.

Também é importante, de acordo com Jeff, ter uma lista clara de objetivos e desejos, para que o ato de guardar dinheiro ganhe propósito e significado. Ao associar o valor poupado à realização de um desejo específico como uma viagem, um curso ou a compra de algo importante, o dinheiro deixa de ser apenas um número guardado e passa a representar a concretização de algo que faz sentido para você: “É mais inteligente investir e fazer o dinheiro render enquanto se planeja, do que se endividar e pagar juros em um financiamento para alcançar o mesmo objetivo”.

Para ele, o décimo terceiro é uma oportunidade de reorganizar as finanças pessoais e iniciar o novo ano com mais estabilidade: “Usá-lo com inteligência, priorizando dívidas caras, reserva de emergência e obrigações de início de ano e equilibrando com consumo consciente, é a chave para transformar esse recurso em um aliado estratégico e não em um vilão das contas pessoais”.

Fonte: Assessoria