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eduardo da fonseca
Foto: Divulgação

“Eduardo da Fonseca”: “Para reduzir as taxas de prematuridade, é fundamental fortalecer o pré-natal, garantir acesso a exames e capacitar profissionais de saúde”

Médico especialista em Medicina Fetal explica os fatores de risco, os desafios enfrentados por bebês prematuros e a importância de um pré-natal de qualidade para prevenir partos antecipados

23 de setembro de 2025

No Brasil, seis bebês nascem prematuros a cada dez minutos. A estatística, divulgada pelo Ministério da Saúde, coloca o país entre os dez com maior número de partos antecipados no mundo, o que representa quase 12% dos nascimentos. As consequências vão além do impacto para as famílias — afetam também a saúde pública, exigindo internações prolongadas e acompanhamento especializado. Para entender melhor os riscos, desafios e caminhos de prevenção, o médico Eduardo da Fonseca, especialista em Medicina Fetal, explica os principais fatores de risco, avanços terapêuticos e a importância de um pré-natal de qualidade.

O que caracteriza um parto prematuro e quais são os fatores de risco mais comuns que podem levar a ele? 

Um parto é considerado prematuro quando acontece antes da 37ª semana de gestação, ou seja, 259 dias. Ele pode ocorrer por diversos motivos, mas os fatores de risco mais comuns incluem histórico de parto prematuro em gestações anteriores, gestação múltipla, problemas no colo do útero, infecções maternas, como infecção urinária, e certas doenças crônicas da mãe, como diabetes ou hipertensão. O estilo de vida também influencia, com o uso de tabaco e álcool aumentando os riscos.

Quais são os principais desafios de saúde que um bebê prematuro enfrenta logo após o nascimento e em longo prazo?

Os maiores riscos ocorrem nas primeiras horas e semanas de vida, quando o bebê ainda está na UTI neonatal. Os problemas mais comuns estão relacionados a órgãos que não tiveram tempo suficiente para se desenvolver completamente, como os pulmões, o cérebro e o sistema digestivo. 

E entre os prematuros, também há diferenças. Os prematuros extremos, que são aqueles que nascem antes das 28 semanas, enfrentam maior risco de vida do que os intermediários ou tardios. Os tardios, inclusive, que nascem entre 34 e 37 semanas, tem crescido no Brasil e geram preocupação em termos de saúde pública.

As crianças que nasceram prematuras têm uma predisposição a desenvolver problemas de saúde crônicos, como doenças respiratórias, dificuldades de aprendizado e problemas visuais ou auditivos.

A progesterona tem sido amplamente discutida na prevenção da prematuridade. Para quais gestantes essa terapia é indicada e como ela atua? 

Ela é indicada para gestantes com alto risco de parto prematuro. Geralmente, são mulheres com histórico de parto prematuro em gestações anteriores ou que apresentam um encurtamento do colo do útero, o que pode ser detectado no pré-natal. A progesterona atua fortalecendo a musculatura uterina e prevenindo o início de contrações precoces. 

Além do uso da progesterona, quais outras medidas e cuidados no pré-natal podem ajudar a “segurar” a gestação pelo máximo de tempo possível? 

Sem dúvidas, um pré-natal de qualidade e iniciado precocemente permite ações importantes, como: tratar infecções, orientar condições que melhoram os hábitos saudáveis maternos, diagnosticar e prevenir situações de risco (p.ex.: hipertensão e diabetes gestacional). Mas sem dúvidas, a avaliação do comprimento do colo uterino pela ultrassonografia endovaginal, nos permite identificar as mães com maior risco de parto prematuro e que se beneficiariam da progesterona micronizada. 

O Brasil ocupa a 10ª posição no ranking mundial de nascimentos prematuros. Essa taxa representa quase 12% dos nascimentos no país. Qual é o impacto disso para o Estado, pensando nas internações e outras consequências em longo prazo? 

O custo de um parto prematuro para o Sistema Único de Saúde (SUS) e o subsequente acompanhamento dessa criação são consideravelmente maiores do que os de um parto a termo. A maior parte dos custos imediatos está ligada ao tempo de internação e aos cuidados intensivos necessários. Se um parto a termo tem uma internação curta, de dois ou três dias, os prematuros frequentemente precisam passar semanas ou meses em uma UTI Neonatal. Além disso, os prematuros são mais suscetíveis a infecções e problemas respiratórios, neurológicos e cardíacos, o que exige um número maior de procedimentos, exames e medicamentos. 

E, muitas vezes, a saúde de bebês prematuros costuma ser mais delicada. É comum, por exemplo, que eles precisem de acompanhamento com fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e neurologistas para lidar com possíveis atrasos no desenvolvimento. Também são mais frequentes os problemas respiratórios. Além do aumento da chance de desenvolvimento de condições crônicas, como deficiência visual ou auditiva e dificuldades de aprendizado, que demandam um cuidado especializado e contínuo. Isso mostra que a prevenção da prematuridade é uma estratégia fundamental não só para a saúde e o bem-estar dos bebês e de suas famílias, mas também para o sistema de saúde público. 

E como o senhor avalia as políticas públicas existentes no Brasil voltadas para a saúde da gestante? Quais medidas poderiam ser adotadas para garantir um pré-natal de maior qualidade e, assim, contribuir para a redução das taxas de prematuridade no país? 

Para reduzir as taxas de prematuridade, é fundamental fortalecer o pré-natal, garantindo acesso facilitado a exames e a consultas de qualidade em todas as fases da gestação, bem como investir na capacitação de profissionais de saúde e em campanhas de conscientização que cheguem a todas as gestantes, especialmente as mais vulneráveis.

Hoje, existem no SUS procedimentos tanto para os bebês quanto para as mães. O tratamento com progesterona é um exemplo, sendo fornecida para mulheres que se encaixam em critérios específicos de alto risco. Outro procedimento importante oferecido pelo SUS para prevenir a prematuridade é a cerclagem do colo do útero, uma pequena cirurgia na qual o médico sutura o colo do útero para mantê-lo fechado. O grande desafio, no entanto, é o diagnóstico precoce e o acesso rápido a esses tratamentos

Fonte: Assessoria