Pressão de fim de ano: por que a cobrança por metas afeta tanto a saúde mental
Psicóloga da Afya Paraíba explica como a cultura da performance, a exaustão emocional e os ciclos avaliativos impactam o bem-estar em dezembro
16 de dezembro de 2025
Com a chegada do fim do ano, cresce o número de pessoas que relatam ansiedade, frustração e a sensação de não ter feito o suficiente. A cobrança por metas cumpridas, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, costuma se intensificar em dezembro e pode gerar impactos significativos na saúde mental. Segundo a psicóloga e coordenadora do Núcleo de Experiência Discente da Afya Paraíba, Aline Machado, esse fenômeno envolve fatores psicológicos, sociais e neurobiológicos.
De acordo com a especialista, o cérebro humano funciona a partir de ciclos avaliativos, que ajudam a organizar a vida, fazer balanços e projetar o futuro. “Esses marcos temporais são importantes para o planejamento, mas se tornam fontes de sofrimento quando se associam à pressão social e à cultura da performance”, explica.
No fim do ano, essas cobranças se intensificam. Metas profissionais não atingidas, expectativas familiares e comparações constantes nas redes sociais passam a funcionar como medidas de valor pessoal. Quando um objetivo não é alcançado dentro daquele período específico, surge a sensação de insuficiência, que muitas vezes é interpretada como fracasso, mesmo não sendo.
Exaustão acumulada ao longo do ano agrava o sofrimento emocional
Além da pressão social, Aline Machado destaca que existe um fator biológico importante envolvido nesse processo: a exaustão neurobiológica acumulada ao longo do ano. Dezembro chega após meses de sobrecarga cognitiva e emocional, o que reduz a capacidade de autorregulação do cérebro.
Segundo a psicóloga, áreas responsáveis pelo controle emocional, planejamento e tomada de decisão passam a funcionar com menor eficiência nesse período. “O resultado é o aumento da irritabilidade, da ansiedade e da sensação de incapacidade. Não se trata de fraqueza emocional, mas de um cérebro sobrecarregado”, reforça.
Impactos da pressão por metas na saúde mental e física
Quando a pressão para “fechar o ano bem” ultrapassa o limite do saudável, o organismo entra em estado constante de alerta. No campo emocional, surgem sintomas como ansiedade persistente, irritabilidade, dificuldade de sentir prazer e pensamentos repetitivos sobre erros e fracassos percebidos.
No corpo, os impactos também são evidentes. Distúrbios do sono, dores musculares, cefaleias, queda da imunidade, alterações gastrointestinais e fadiga extrema estão entre os sinais mais comuns. “O corpo responde diretamente ao estado emocional e cognitivo. Quando a mente está sobrecarregada, o corpo também adoece”, explica Aline.
Sinais de que o estresse do fim de ano passou do limite
Sentir ansiedade em dezembro não é, por si só, um problema. A ansiedade é um mecanismo natural e até protetivo. O alerta surge quando os sintomas se tornam persistentes e não diminuem mesmo após períodos de descanso.
Entre os sinais que exigem atenção estão: dificuldade frequente de concentração, lapsos de memória, choro sem causa aparente, sensação de funcionar no “automático”, perda de motivação e isolamento social. Nesses casos, buscar ajuda profissional é fundamental para preservar a saúde mental.
Como lidar com a ansiedade e a pressão típica do fim de ano
Para atravessar esse período com mais equilíbrio emocional, a psicóloga recomenda rever a forma como as metas são estabelecidas. Nem tudo precisa ser concluído até o encerramento do ano. O mais importante é reconhecer o que foi possível sustentar com saúde.
Atividades corporais, exercícios físicos, caminhadas, práticas de respiração, escrita e atividades artísticas ajudam a regular o sistema emocional e a reduzir a autocrítica excessiva. Além disso, ressignificar o ano vivido é essencial para reconhecer conquistas e aprendizados, mesmo quando nem todas as metas foram alcançadas.
Outro ponto central é normalizar o descanso como estratégia de saúde. Dormir melhor, desacelerar e reduzir estímulos são necessidades neurobiológicas, e não privilégios. O descanso é fundamental para a consolidação de emoções, memórias e aprendizagens.
Se o fim do ano pesa, isso não significa fracasso. Muitas vezes, significa apenas que houve um grande esforço ao longo dos meses. Cuidar da saúde mental em dezembro é um ato de responsabilidade consigo mesmo. Fechar o ano bem não é cumprir todas as metas, mas compreender o próprio percurso e seguir adiante com mais equilíbrio e humanidade.
Fonte: Vivass Comunicação