Redes sociais superam imprensa e se tornam principal fonte de notícias do brasileiro, apontam estudos
Pesquisas da Comscore e Reuters Institute mostram que influenciadores e políticos atuam como "criadores de notícias", com 6,4 bilhões de interações no Brasil
4 de dezembro de 2025
Com 6,4 bilhões de interações em conteúdos jornalísticos nas plataformas digitais, o Brasil lidera o consumo de notícias via redes sociais na América Latina. Estudos alertam para riscos à credibilidade e ao fortalecimento de influenciadores — inclusive políticos — como “novos mediadores” da informação.
Uma mudança profunda no comportamento informacional do brasileiro está sendo registrada pelas principais pesquisas globais sobre mídia digital. Dados recentes da Comscore 2024, do Digital News Report 2025 e do Mapping News Creators and Influencers in Social and Video Networks, do Reuters Institute, mostram que as redes sociais ultrapassaram os veículos tradicionais como principal meio de consumo de notícias no país — e que influenciadores, celebridades e políticos estão se consolidando como “criadores de notícias”.
Segundo a Comscore, o Brasil foi o país que mais consumiu notícias pelas redes sociais em toda a América Latina em 2024, acumulando 6,4 bilhões de interações em conteúdos jornalísticos nas plataformas digitais. O número expressivo revela uma mudança no modo como o brasileiro se informa: veloz, fragmentado e fortemente mediado por perfis individuais. Para Alfredo Albuquerque, relações-públicas e pesquisador, esse cenário mostra como a lógica das redes redefine tanto os hábitos da população quanto as responsabilidades de quem produz comunicação institucional. Segundo ele: “constatar que o brasileiro acessa mais notícias pelas redes sociais do que pelos meios convencionais obriga a comunicação a repensar o modo como transmite as informações.
A partir de agora, haverá uma cobrança maior por velocidade, atualização constante e respostas imediatas.” E acrescenta: “essa cobrança existirá porque o modus operandi das redes, marcado pela rapidez, fluidez e estímulo contínuo, será, de modo inevitável, incorporado ao jornalismo. Isso exigirá mais responsabilidade na apuração, checagem e na escolha dos rostos que imprimem credibilidade às notícias.”
O outro relatório, intitulado de Mapping News Creators and Influencers in Social and Video Networks, do Reuters Institute, evidencia que os brasileiros estão se informando cada vez mais por meio de perfis de influenciadores, celebridades e atores políticos. Entre os nomes que figuram entre os mais influentes para noticiar fatos no país estão Virgínia Fonseca, Carlinhos Maia, o presidente Lula, Jair Messias Bolsonaro, além de jornalistas como William Bonner, César Tralli, Bruno Rocha (Hugo Gloss) e Leo Dias. Essa mistura entre jornalistas profissionais, entretenimento e figuras políticas cria um ecossistema informacional híbrido, onde a linha entre opinião, conteúdo de marca, ativismo e notícia tradicional se torna mais tênue.
É nesse ponto que Alfredo Albuquerque faz um alerta mais contundente. Segundo ele, a credibilidade da informação está diretamente ameaçada pela ascensão de perfis que não possuem critérios editoriais ou jornalísticos estruturados: “as redes sociais democratizaram a fala, mas não democratizaram os critérios jornalísticos e esse descompasso afeta diretamente a credibilidade. O risco não está em influenciadores falarem sobre notícias, mas em substituírem a imprensa como fonte primária. Sem método, sem checagem e sem responsabilidade editorial, a opinião vira verdade instantânea, e isso molda percepções de forma perigosa.
Quando a população se informa apenas a partir desses perfis, abre-se espaço para interpretações enviesadas e para a construção de narrativas que atendem mais a interesses individuais do que ao direito coletivo à informação.” Ainda de acordo com o relações-públicas, essa mudança tem impacto direto no ambiente democrático.
Para ele, entender o mundo por meio de perfis políticos polariza sociedade. Alfredo afirma: “quando uma pessoa opta por entender o mundo a partir de perfis políticos, há uma afirmação tácita de que sua visão será moldada por um viés partidário. Além disso, há uma negação do trabalho dos jornalistas e dos critérios editoriais que sustentam uma sociedade informada.” Por fim, conclui: “quem consome notícias somente por perfis liderados por políticos se insere num cenário contínuo de polarização e impede a criação de espaços reais de diálogo, essenciais para o funcionamento da democracia.”
Fonte: Assessoria