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Foto: Divulgação

Ana Quintana: “O médico tem que sair da faculdade sabendo cuidar do seu paciente até seu último suspiro. Se ele não souber fazer isso, ele fracassa todos os dias”

Médica fala sobre luto, empatia e o papel humano da Medicina em evento promovido pela Afya Paraíba

28 de novembro de 2025

Falar sobre a morte é, na verdade, falar sobre a vida e sobre o que realmente importa quando o tempo parece curto. Essa foi a provocação da médica e escritora Ana Cláudia Quintana, referência nacional em cuidados paliativos, durante palestra no III Congresso Internacional Médico Estudantil (MEDX 2025), promovido pela Afya Paraíba.

Com o tema “A morte é um dia que vale a pena viver”, a médica convidou os futuros médicos a refletirem sobre a importância do diálogo, da escuta e da presença. E em uma abordagem sensível e direta, ela provocou uma reflexão sobre o que significa, de fato, cuidar de alguém quando não há mais cura, e o porquê da formação médica precisar ir além da técnica para alcançar a dimensão do humano.

Na entrevista a seguir, Ana Cláudia fala sobre os desafios de humanizar a Medicina em tempos de inteligência artificial, a coragem de discutir a morte e o luto, e o papel da formação de profissionais mais conscientes e compassivos.

Como foi receber o convite da Afya Paraíba para abrir um congresso que fala não só de ciência, mas também de humanidade e cuidado?

Eu fiquei muito feliz de receber esse convite da Afya porque são realidades pelas quais eu luto a minha carreira toda. Encontros para falar sobre as técnicas sempre acontecem, mas não podemos esquecer que quem vive o processo não está presente no congresso, que é o paciente. E, no nosso caso, quem não quiser falar sobre luto, vai sofrer muito mais. E quando desejar falar, pode ser que você seja silenciada pela sua família. Porque “não é bom falar sobre isso”, porque “dá azar” ou “vai atrair”. E eu costumo dizer que eu falo disso há mais de 30 anos. Então, acho que não é exatamente esse o problema. É a falta de coragem das pessoas de falar sobre assuntos que são muito importantes.

Em um cenário de alta tecnologia médica, como manter o cuidado centrado na pessoa e não apenas na doença?

Não é no futuro o problema. Esse problema desde que inventaram a tomografia. Não se examina mais o paciente: se pede o exame. Quando o médico senta na frente do paciente, ouve o que ele tem a dizer, sabe montar suas hipóteses diagnósticas, seus tratamentos, olhando para a vida inteira do paciente e não só para o exame, isso já deveria ser praticada há muito tempo. Eu falo que seremos todos substituídos pela inteligência artificial se abrirmos mão do ser humano.

Por isso é importante aprender todas as vertentes desde a graduação?

Sim. Fui uma das grandes lutadoras por isso. Eu escrevi as diretivas de ensino da Medicina, incluindo o cuidado paliativo como disciplina obrigatória. E eu sou professora universitária também. Acredito o médico tem que sair da faculdade sabendo cuidar do seu paciente até seu último suspiro. Se ele não souber fazer isso, ele fracassa todos os dias.

Fonte: Vivass Comunicação