LIDE Paraíba reúne especialistas para debater construção de valor e equity em negócios paraibanos
Encontro na Ilha Tech apresentou estratégias práticas de crescimento, M&A, escalabilidade e gestão de patrimônio com Marcus Varandas e Luiz Medeiros
24 de novembro de 2025
O LIDE Paraíba realizou, na última terça-feira (18), o encontro “Além do Lucro: Construindo equity, valor e legado”, onde reuniu empresários, gestores e investidores para um debate aprofundado sobre como estruturar negócios preparados para crescer de forma sustentável e aumentar seu valor no longo prazo. O evento aconteceu na Ilha Tech, em João Pessoa, e recebeu Marcus Varandas e Luiz Medeiros, dois dos nomes mais influentes do Nordeste quando o assunto é estratégia empresarial, fusões e aquisições e gestão de patrimônio.
Ao abrir a programação, o presidente do LIDE Paraíba, Gabriel Galvão, destacou que o ecossistema empresarial da Paraíba vive um momento de expansão, mas ainda carece de discussões mais profundas sobre valor, patrimônio e perpetuação de negócios. Segundo ele, temas como valuation, equity, governança e M&A (Fusões e Aquisições) se tornaram frequentes no vocabulário empresarial, porém ainda são compreendidos apenas superficialmente pela maioria dos gestores.
“O nosso papel no LIDE é elevar a consciência do empresário para esses temas e trazer quem realmente viveu essa jornada na prática. Lucro é importante, claro. Mas, como diz o Flávio Augusto, o lucro é a gorjeta do empresário. O verdadeiro valor — o que cria liberdade, o que constrói legado — está no equity. É ele que determina a capacidade da empresa de atravessar crises, de atrair investidores, de ser vendida ou de permitir que o fundador escolha o próprio futuro.”
Para Gabriel Galvão, entender o equity é essencial para qualquer empresa que queira crescer de maneira exponencial nos próximos anos. “Não estamos falando apenas de faturar mais. Estamos falando de construir valor de verdade, valor que permanece e que pode ser realizado. E por isso trouxemos hoje dois nomes que aplicaram esse conceito no dia a dia, que venderam empresas, lideraram operações e sabem transformar conhecimento em resultado.”
Construção de valor
A primeira apresentação foi conduzida por Marcus Varandas, empresário, investidor e conselheiro. Sócio da Hofa Capital e fundador do Grupo MVX, Marcus é também mentor do G4 Educação, sócio da MLS ao lado de nomes como Flávio Augusto, Joel Jota e Caio Carneiro, e fundador da Menew — empresa vendida para a Stone em um dos M&A mais relevantes do Nordeste. Sua história inspirou o livro e o filme “Inexplicável”, que alcançou o Top 1 em cinco países e Top 3 global na Netflix em 2025.
Marcus Varandas iniciou sua fala contando como, ao longo de 26 anos, precisou reposicionar seu negócio diversas vezes para acompanhar as mudanças do mercado. O empresário relatou como evoluiu do desenvolvimento de um software instalado máquina a máquina até a venda do negócio para a Stone, em 2020. Ele explicou que a base de sua estratégia sempre foi a proximidade com o cliente e a capacidade de reposicionar a empresa conforme o mercado avançava.
“Pensei que meu software não tinha mais valor porque ele não era nativo de nuvem. Depois entendi que não era o produto que precisava mudar — era o modelo de negócio”, explicou. A partir daí, adotou um modelo inspirado em franquias e representantes, que permitiu expandir mantendo o mesmo software, sem reconstruí-lo.
Ele também relatou como conheceu Luiz Medeiros e ouviu que precisaria “dobrar o faturamento” para realizar uma venda relevante. “Achei que estava gigante. Quando ele disse que precisava dobrar, percebi que ainda tinha muito a construir.” Após o crescimento, iniciou o processo de venda e passou a integrar a Stone em plena pandemia, liderando uma equipe que saltou de 50 para 140 colaboradores e participando diretamente de operações de grande porte, como a aquisição da Lynx, avaliada em mais de R$ 6 bilhões.
Ele também apresentou o framework EQ-8, os oito pilares que orientam a construção de valor: fundação estratégica, mercado endereçado, aquisição e crescimento, receita recorrente, gestão de risco, indicadores, marca e liderança. “Equity não é uma palavra bonita. É um processo. É acordar todos os dias construindo algo que vale mais amanhã do que vale hoje. Construir valor não é sobre crescer a qualquer custo, é sobre crescer com propósito, previsibilidade e escala”.
Como nasce o ecossistema de investimentos
A segunda apresentação foi conduzida por Luiz Medeiros, um dos maiores especialistas do Nordeste em fusões e aquisições, governança patrimonial e gestão de investimentos. Graduado em Administração, com MBA pela Saint Mary’s University e mestrado em Economia pela UFPE, Luiz iniciou a carreira no Small Business Development Center, no Canadá.
No Brasil, tornou-se diretor da área de M&A da Deloitte no Nordeste, e depois sócio e diretor de Private Equity da Rio Bravo Investimentos, atuando em transações de grande porte. Em 2019, fundou a Hofa Capital e, em 2021, criou a Douro Capital, hoje o maior multifamily office independente do Nordeste, especializado em wealth management e M&A, e referência em gestão patrimonial para famílias empresárias.
Durante o seu discurso, o especialista explicou que construir o equity é apenas o primeiro estágio. “O equity não serve apenas para deixar a empresa bonita no papel. Ele precisa ser realizado. O empresário só sente o impacto real quando passa pelo M&A. Sem isso, o valor está represado. Realizá-lo é o que transforma o valor em liberdade”.
Em seguida, detalhou passo a passo de uma operação de fusão ou aquisição — do valuation ao closing, passando por roadshow, diligência e negociações — e afirmou que muitos empreendedores superestimam o valuation e subestimam o papel de um advisor. “Muita gente confunde valuation com preço. Valuation não é a verdade — é um ponto de partida. O preço quem define é o mercado, e a estratégia certa pode multiplicar esse preço. O corretor aproxima comprador e vendedor; o advisor cria valor”.
Para explicar o pós-M&A, Luiz Medeiros apresentou o conceito de multifamily office e como esse tipo de estrutura ajuda empreendedores a administrar o patrimônio após um evento de liquidez. Segundo ele, grande parte dos empresários “tem pouco tempo ou vocação para gerir recursos” e precisa de uma estrutura que una gestão financeira, planejamento sucessório e visão de longo prazo.
“Quando o empresário realiza o equity, nasce outra responsabilidade: gerir a liquidez. Muitos sabem montar empresa, mas não sabem cuidar de patrimônio. A Douro existe para resolver esse problema, preservando e perpetuando o patrimônio construído ao longo de décadas.
De acordo com Luiz Medeiros, o multifamily office resolve o desafio da liquidez e preserva o patrimônio que foi construído ao longo de toda uma jornada empresarial. Ao final, o especialista ressaltou que construir, realizar e perpetuar o equity formam uma mesma trajetória: “A jornada do equity não termina na venda. Ela continua na forma como esse valor é reinvestido e preservado”.
O caminho do novo empreendedorismo paraibano
Para encerrar o encontro, um debate aberto com os participantes aprofundou temas práticos do dia a dia dos empresários que cogitam uma operação de M&A ou desejam construir valor de longo prazo. Luiz Medeiros explicou que não existe uma “receita única” sobre o que mais atrai compradores em uma empresa: em alguns casos, é a presença geográfica; em outros, a carteira de clientes, a tecnologia, a capacidade de integração ou mesmo os dados gerados pelo negócio.
Outro ponto sensível foi o planejamento sucessório diante das mudanças recentes na legislação e da exigência de marcar participações pelo valor de mercado. Luiz foi enfático ao afirmar que “o tema ganhou complexidade e precisa ser tratado com cautela, sempre em conjunto com advogados especializados. Em alguns casos, pode ser mais eficiente fazer a sucessão diretamente dos recursos (liquidez) do que das cotas, para evitar discussões subjetivas de avaliação de ativos dentro de holdings”.
A discussão também entrou em temas de cultura organizacional, pessoas e liderança, a partir de uma pergunta sobre como equilibrar faturamento, lucratividade e valores na preparação de uma empresa para venda. Marcus Varandas afirmou que “cultura é o último nível de tolerância do dono e que, na prática, aquilo que a liderança aceita no dia a dia acaba virando a cultura real da empresa”. Ele ainda contou que, ao escalar sua operação de 40 para 140 colaboradores, a segurança veio de ter um núcleo de liderança com os mesmos valores que os seus, capaz de contratar e demitir como ele faria.
O debate terminou com uma mensagem clara aos empresários presentes: empresas de dono bem posicionadas, com cultura forte, números organizados e visão de futuro têm uma vantagem competitiva importante frente a grandes estruturas mais burocráticas — e é justamente nesse ponto que iniciativas como o LIDE Paraíba, a Hofa Capital, a Douro Capital e o EquityClub buscam apoiar quem quer ir além do lucro e transformar o próprio negócio em equity, legado e liberdade.
Fonte: Assessoria