Idosos do Sertão da Paraíba empreendem e geram renda com projeto que antecipa tema do Enem 2025
Iniciativa em Triunfo e Poço de José de Moura atende 100 idosos com cursos de costura, artesanato e culinária; PB tem mais de 17% de população idosa
18 de novembro de 2025
Enquanto milhões de estudantes refletiram, no último domingo (9), sobre as “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, tema da redação do Enem 2025, no Alto Sertão da Paraíba a discussão já acontece na prática. Em Triunfo e Poço de José de Moura, idosos estão redescobrindo habilidades, gerando renda e conquistando autonomia por meio do projeto Viver e Empreender, iniciativa da ONG Pisada do Sertão, financiada pela Electrolux.
A proposta atende 100 idosos dos dois municípios, oferecendo cursos de corte e costura, artesanato, culinária, quintais produtivos e educação financeira. A iniciativa reforça a ideia de um envelhecimento ativo e produtivo — tema central das discussões que ganharam força após o Enem.
Segundo dados do IBGE, o Brasil tem hoje mais de 34 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o equivalente a 16,2% da população. As projeções indicam que, até 2050, esse percentual deve ultrapassar 30%, tornando o país uma nação majoritariamente idosa. Na Paraíba, o movimento é ainda mais acelerado: o estado possui uma das maiores proporções de idosos do Nordeste, com mais de 17% da população nessa faixa etária. Os dados reforçam a urgência de políticas e iniciativas que deem protagonismo à pessoa idosa.
Transformação que vai além da sala de aula
No polo de Triunfo, a coordenadora do projeto, Elizângela Duarte, acompanha diariamente os avanços das participantes. Ela destaca que o trabalho tem sido profundamente transformador, especialmente ao observar mudanças de autoestima e comportamento. Um dos casos que mais marcaram sua trajetória foi o de uma idosa com limitação de locomoção e Parkinson, que chegou desacreditada de suas próprias capacidades e hoje confecciona artesanatos com confiança e entusiasmo. Para Elizângela, histórias como essa mostram que “o envelhecimento pode ser uma fase de descobertas, não de desistências”.
A instrutora de corte e costura Maria do Carmo também percebe o impacto emocional das oficinas. Apesar de muitas alunas já terem alguma experiência com costura, outras começaram do zero — e todas demonstram orgulho ao finalizar cada peça. Ela conta que o carinho das alunas, as histórias trocadas e o brilho nos olhos ao concluir uma produção são o que mais a encantam. Para a instrutora, o projeto tem reforçado o sentimento de utilidade e valorização pessoal.
No artesanato, a instrutora Nilma Duarte destaca que cada oficina é um momento de troca e afeto. Para ela, o processo vai muito além da técnica: estimula criatividade, fortalece vínculos e funciona como uma verdadeira terapia ocupacional. Nilma acredita que o projeto tem mostrado aos idosos que sempre é tempo de aprender e recomeçar — um dos pilares da metodologia da Pisada do Sertão.
Parcerias que fortalecem o cuidado e a inclusão
Em Triunfo, a parceria institucional também tem sido decisiva. A secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Janaina Andrade, explica que o município tem contribuído com infraestrutura, logística e articulação social para que o projeto aconteça de forma contínua. Ela destaca o impacto emocional e social percebido: idosos mais confiantes, sociáveis e com maior senso de utilidade e protagonismo.
Além da atuação em Triunfo, o projeto também conta com a parceria da Secretaria de Assistência Social de Poço de José de Moura, onde as oficinas são realizadas no CRAS, atendendo idosos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV). A colaboração do município tem sido fundamental para garantir espaço, apoio social e articulação comunitária, fortalecendo a participação e o bem-estar dos idosos na região.
Empreender na maturidade: renda, autonomia e pertencimento
Os resultados do projeto já começam a aparecer na prática. Idosos têm comercializado os produtos que aprenderam a produzir nas oficinas, gerando renda extra e ganhando independência financeira. Além disso, o clima de convivência e colaboração tem fortalecido laços comunitários, criando redes de apoio e estimulando o cuidado coletivo.
A secretária de Assistência e Desenvolvimento Social de Triunfo, Janaina Andrade, destaca um crescimento nítido na autonomia e na autoconfiança dos participantes — pessoas que, muitas vezes, haviam perdido o senso de utilidade e agora se reconhecem como protagonistas. Para ela, ter idosos empreendendo representa não apenas um avanço econômico, mas também um marco cultural. “Triunfo mostra que envelhecer não é sinônimo de incapacidade, mas de potência e criatividade”, reforça.
Diálogo com o Enem e com o futuro
O Viver e Empreender se alinha diretamente ao debate levantado pelo Enem 2025 sobre o papel da pessoa idosa na sociedade. Se o país vive um rápido processo de envelhecimento, iniciativas como esta mostram caminhos possíveis para garantir dignidade, autonomia e inclusão.
A presença de uma participante de 95 anos, ativa nas oficinas, simboliza o espírito do projeto: envelhecer não significa parar, mas continuar escrevendo novas histórias.
O trabalho da Pisada do Sertão revela que, quando oportunidades são criadas, os idosos respondem com entusiasmo, talento e desejo de participar. No Sertão, longe dos grandes centros urbanos, eles estão mostrando que empreender não tem idade — e que construir um futuro mais humano e inclusivo é uma tarefa coletiva.
Fonte: Assessoria