Novembro Azul destaca o papel da saúde mental na prevenção do câncer de próstata
Psicólogo ressalta que romper o silêncio é um passo essencial para cuidar do corpo e da mente
12 de novembro de 2025
Mais do que alertar para a necessidade de exames preventivos contra o câncer de próstata, o Novembro Azul é um momento de reflexão sobre a saúde integral do homem, física e emocional. A campanha, que surgiu em 1999 na Austrália e hoje é difundida em todo o mundo, propõe um olhar mais amplo sobre o bem-estar masculino, chamando atenção para o impacto do silêncio emocional e dos estigmas sociais na saúde mental e no autocuidado.
O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele. A doença, que afeta uma glândula localizada abaixo da bexiga e responsável pela produção do sêmen, é silenciosa em seus estágios iniciais. Por isso, a detecção precoce é essencial, os exames de toque retal e de PSA (antígeno prostático específico) são os principais aliados na prevenção. Quando diagnosticado no início, o câncer de próstata tem até 90% de chance de cura. Ainda assim, muitos homens evitam o tema, movidos pelo preconceito e pela ideia equivocada de que o exame pode afetar a masculinidade.
Para Mario Silveira, professor de Psicologia da FPB, integrante do Ecossistema Ânima, essa resistência não é apenas individual, mas cultural. “A dificuldade dos homens em falar sobre sentimentos e buscar ajuda emocional é uma questão estrutural. Desde cedo, nos é ensinado que homem não chora, não sente medo, não pode demonstrar vulnerabilidade. Quando o homem não identifica e não nomeia suas emoções, isso gera sintomas psicossomáticos: ansiedade, dores físicas, doenças. É um efeito dominó”, explica.
A rigidez emocional está profundamente ligada à forma como a sociedade define o que é “ser homem”, e essa construção impacta diretamente na forma como eles cuidam de si mesmos. Quanto mais o homem se prende a um modelo rígido de masculinidade, menor tende a ser sua procura por espaços de cuidado com o corpo e a mente. O preconceito com o exame de próstata, por exemplo, ainda é comum e muitas vezes tratado com humor, quando, na verdade, é uma questão séria de saúde. É essencial compreender que o autocuidado deve ser visto como um sinal de força e maturidade, não de fraqueza.
Além de enfrentar o machismo estrutural, o psicólogo aponta caminhos práticos para promover uma mudança de comportamento. “Falar é um comportamento, e como tal, pode ser aprendido. Os homens precisam criar o hábito de conversar sobre emoções, sobre sexualidade, sobre o que sentem, especialmente com outros homens. Isso ajuda a desconstruir padrões e a abrir espaço para novas experiências emocionais. Quando os homens constroem um espaço seguro, começam a perceber que podem ser vulneráveis sem deixar de ser homens. A psicoterapia, individual ou em grupo, também é um caminho essencial nesse processo”, complementa.
A transformação, no entanto, também depende do entorno. O professor explica que familiares e amigos podem ter papel importante no incentivo ao autocuidado, mas ainda enfrentam barreiras culturais. “Muitos familiares também não foram letrados emocionalmente e acham que falar sobre sentimentos é frescura. Por isso, o diálogo precisa começar em casa, especialmente com as novas gerações, que já têm mais acesso à informação e podem influenciar positivamente os pais e avós”, analisa.
Mais do que uma campanha de prevenção ao câncer de próstata, o Novembro Azul é um convite à reflexão sobre emoções e autocuidado masculino. Buscar apoio psicológico, realizar exames preventivos e adotar hábitos saudáveis são atitudes que demonstram responsabilidade e amor-próprio. Cuidar da saúde física e mental é um ato de coragem que fortalece o homem e contribui para uma vida mais saudável.
Fonte: Assessoria