Josenildo Fernandes: “Pensar o turismo de forma mais regional, e não individual, é um dos maiores desafios que temos que enfrentar”
Presidente do Fórum de Turismo do Brejo Josenildo Fernandes destaca importância de municípios superarem visão fragmentada e atuarem em conjunto; planejamento estratégico é prioridade para consolidar região como destino
30 de outubro de 2025
O que é preciso para transformar uma região inteira em um destino turístico vibrante e consolidado? Como unir municípios com identidades próprias em um projeto comum, superando a visão fragmentada que muitas vezes limita o potencial de crescimento?
Para desvendar esses desafios e explorar as oportunidades que pulsam no coração da Paraíba, conversamos com Josenildo Fernandes da Silva. Professor de formação, com pós-graduação em História do Brasil e dono de agência de turismo, Josenildo reúne em sua trajetória o conhecimento acadêmico, a visão do empreendedor e a experiência da gestão pública. Atualmente, como secretário de Cultura e Turismo de Dona Inês e presidente do Fórum de Turismo do Brejo, ele está na linha de frente da missão de integrar municípios e fomentar o desenvolvimento regional.
Nesta entrevista, ele nos guia por uma reflexão profunda sobre os caminhos do turismo no Brejo e Curimataú, desvendando desde os gargalos da integração até a força dos festivais de inverno, e compartilha sua visão estratégica para um futuro onde a cultura, as trilhas de longo curso e o planejamento são os pilares para consolidar a região no mapa turístico do Brasil.
Como presidente do Fórum de Turismo do Brejo, qual você considera ser o principal desafio na integração dos municípios para fortalecer o turismo regional, e que estratégias o Fórum tem adotado para superá-lo?
O maior desafio é fazer com que os municípios se entendam como territórios turísticos e superem a visão de competição, passando a pensar no turismo de forma integrada e regional. Muitas cidades ainda não têm essa percepção. Para superar isso, o Fórum está apostando na formação conjunta, por meio de parcerias com entidades como UFPB, IFBP, Fecomércio e Sebrae, e na elaboração de um plano de ação para quatro anos, que deixa clara a importância da integração. Outra estratégia é dividir a atuação do Fórum em três polos que podem trabalhar com a questão da regionalização: Areia e região, Bananeiras e Guarabira. Então seria interessante eles entenderem essa importância e trabalhar de forma conjunta pra fortalecer o polo deles.
Como você concilia a atuação como Secretário de Turismo de Dona Inês e presidente do Fórum do Brejo?
Exercer as duas funções ao mesmo tempo permite compreender as dificuldades de ambos os lados. É preciso trabalhar o local e pensar estratégias para o regional, o que exige atuação em duas frentes e traz certa dificuldade. No entanto, a experiência prática na ponta, vivenciando os desafios de um município, dá uma noção real do que é possível executar, do que o secretário também passa, evitando cobranças excessivas e trazendo mais entendimento sobre a realidade de cada gestor.
O Caminhos do Frio é um case de sucesso constantemente citado. Quais foram, na sua avaliação, os fatores cruciais para que o evento se tornasse uma referência turística, e que lições desse sucesso podem ser aplicadas a outros produtos turísticos da região?
O Caminhos do Frio tornou-se um case de sucesso devido à união entre gestores públicos e empresários desde a sua formação. Essa integração foi fundamental para que o Brejo passasse a ser descoberto turisticamente. A lição principal é que, para desenvolver uma rota cultural ou turística, é essencial juntar o setor empresarial, a gestão pública e o terceiro setor. Quando o turismo fica apenas a cargo do poder público, o crescimento fica limitado, pois a visão do trade turístico é diferenciada e indispensável.
Recentemente tem-se falado da importância de ver a “trilha como um produto turístico”. Pode nos detalhar como o ecoturismo e o turismo de aventura se encaixam na estratégia de desenvolvimento para a região?
As trilhas, especialmente as de longo curso no interior da Paraíba, são produtos turísticos de grande relevância, com um público fiel. Elas contribuem para o desenvolvimento e a preservação do meio ambiente, fortalecendo o ecoturismo e trazendo um público de diversas partes do Brasil para conhecer. Na região, o “Caminho das Ararunas” é um exemplo claro: é o único produto capaz de atrair um turista para ficar dez dias consecutivos no Brejo. Diante desse potencial, a região está se preparando para organizar sua primeira trilha de longo curso, com previsão de implementação para 2026 ou 2027.
Qual o papel da cultura, dos esportes de aventura e de festivais como o Festival de Inverno das Serras, por exemplo, no fomento ao turismo e na geração de impacto econômico para a região?
Os municípios vêm criando diversos roteiros com o apoio do Sebrae, mas esses produtos precisam ser mostrados e os roteiros têm que se tornar produtos. A cultura local é imprescindível para diferenciar os roteiros e transformá-los em produtos turísticos e o que diferencia um roteiro do outro. Festivais como o Caminhos do Frio, Raízes do Brejo e o Festival de Inerno das Serras, no Brejo e Curimataú, funcionam como vitrines para divulgar a cultura e os produtos turísticos da região. Eles abrem uma janela para disseminar o que foi criado, gerando impacto econômico e atraindo visitantes.
Qual sua visão para o futuro do turismo no Brejo e Curimataú, e quais são as prioridades?
O desenvolvimento futuro depende essencialmente de planejamento organizado. Sem um planejamento estratégico que oriente as ações, fica difícil alcançar um crescimento pleno. Acredito que, com os municípios unidos, planejando e executando ações de forma conjunta, o desenvolvimento sairá do papel. O Brejo já evoluiu muito, mas com um planejamento mais estruturado ele pode dobrar de tamanho, assim como o Curimataú. Com a consolidação do planejamento – agora exigido pelo Ministério do Turismo – , esse crescimento pode dobrar, dada a magnitude do potencial turístico regional. Com planejamento em todos os municípios, isso vai facilitar esse desenvolvimento público como todo.
Josenildo Fernandes da Silva é professor, com pós graduação em História do Brasil, dono de agência de turismo e está secretário de Cultura e Turismo do município de Dona Inês e presidente da IGR do Brejo.
Fonte: Marília Domingues