
Manu Vilhena: “Durante muito tempo a figura do sommelier era majoritariamente masculina. Mas isso vem mudando, e fico muito feliz de fazer parte dessa transformação”
Especialista com certificação internacional WSET Nível 2 fala sobre protagonismo feminino na enologia, crescimento do consumo no Nordeste e a curadoria do Ville Wine Fest
9 de outubro de 2025
Entre taças e aromas, Manu Vilhena construiu uma trajetória que reflete paixão, sensibilidade e conhecimento. Sommelière formada pelo Senac de Águas de São Pedro (SP) e especialista em vinhos com certificação internacional WSET Nível 2, ela transformou o encantamento por uma taça de vinho em carreira e propósito. Após comandar o próprio restaurante e atuar no varejo especializado, Manu hoje é referência em curadoria e consultoria para eventos e restaurantes, como o Moman e o Ville Wine Fest — um dos festivais mais aguardados do calendário paraibano.
Nesta entrevista, ela fala sobre o protagonismo feminino na enologia, o crescimento do consumo de vinhos no Nordeste e os bastidores da curadoria que faz do Ville Wine Fest uma verdadeira experiência sensorial. Um papo inspirador com quem vive — e celebra — o vinho em todas as suas formas.
Como começou a sua relação com o vinho e o que a motivou a se tornar sommelière?
Manu Vilhena: Sempre fui uma apreciadora curiosa do vinho. Quando fui morar em São Paulo, decidi ocupar o tempo livre estudando mais sobre essa bebida que sempre me encantou. Comprei livros, participei de cursos, e acabei viajando para o Chile e Mendoza, na Argentina — duas regiões produtoras incríveis. Essas experiências despertaram algo mais profundo em mim, e percebi que não era apenas um hobby, mas uma paixão que eu queria transformar em profissão. Fiz o curso de sommelière no Senac São Paulo, e desde então o vinho se tornou o centro da minha trajetória profissional e pessoal.
A enologia ainda é um mercado predominantemente masculino. Como tem sido, para você, o papel da mulher nesse universo?
Manu Vilhena: É verdade, durante muito tempo a figura do sommelier era majoritariamente masculina. Mas isso vem mudando, e fico muito feliz de fazer parte dessa transformação. Hoje vemos mulheres incríveis atuando em todas as áreas — desde a produção nas vinícolas até a curadoria e a crítica especializada. As mulheres têm um olhar muito sensível e atento aos detalhes, o que traz uma contribuição única ao mundo do vinho. É uma conquista coletiva e uma inspiração para as próximas gerações.
Nos últimos anos, o consumo de vinho tem crescido no Brasil, especialmente no Nordeste. A que você atribui esse movimento?
Manu Vilhena: O vinho deixou de ser uma bebida restrita a ocasiões especiais e passou a fazer parte da rotina das pessoas. No Nordeste, isso se intensificou ainda mais — o público quer explorar novos sabores e experiências, e percebeu que o vinho pode estar presente tanto em um jantar sofisticado quanto em um encontro casual entre amigos. Além disso, há uma oferta muito maior de rótulos, inclusive nacionais, e isso ajuda a democratizar o consumo. O brasileiro quer experimentar, aprender e viver o vinho de forma mais descomplicada.
Existe um estilo de vinho que combina mais com o nosso clima quente e com o perfil do consumidor nordestino?
Manu Vilhena: Com certeza. Os vinhos brancos, rosés e espumantes são excelentes para o nosso clima. São refrescantes, leves e harmonizam muito bem com a gastronomia local. Inclusive, alguns rótulos foram pensados para serem servidos com gelo — algo que combina perfeitamente com o verão nordestino. Acredito que o mais importante é harmonizar o vinho com o momento. O vinho deve ser uma experiência de prazer, não uma regra rígida.
O Ville Wine Fest tem se consolidado como um dos eventos mais aguardados da cidade. Como é o seu trabalho de curadoria dos vinhos do festival?
Manu Vilhena: É um processo que começa com muita pesquisa e sensibilidade. Eu me preocupo, antes de tudo, com a qualidade dos rótulos, mas também busco variedade — vinhos de diferentes regiões e uvas, para que o público tenha liberdade de provar o novo. Quero que cada pessoa saia do festival com pelo menos uma descoberta: uma uva, uma vinícola ou um estilo que não conhecia. Essa é a magia da curadoria — transformar o evento em uma experiência sensorial completa.
Quais são alguns dos rótulos que o público poderá degustar na terceira edição do Ville Wine Fest?
Manu Vilhena: Teremos uma seleção muito especial, com vinhos do Brasil, França, Itália, Portugal, Espanha, Chile e Argentina. Entre os destaques estão o Alma Negra, DV Catena, Trivento White Malbec (um vinho branco feito com uva tinta), Morandé Gran Reserva, Petit Vega, 99 Rosas, Tapada do Fidalgo, além dos espumantes Chandon e Mumm. Também destaco o Dádivas Chardonnay, da vinícola brasileira Lidio Carraro — um vinho que esteve, inclusive, na carta do Palácio de Buckingham. É uma curadoria que equilibra rótulos consagrados e descobertas que vão surpreender o público.
O que o público pode esperar da experiência deste ano no Ville Wine Fest?
Manu Vilhena: Um festival completo. Além do open bar de vinhos selecionados, o público vai poder aproveitar a gastronomia refinada dos restaurantes Momam e Usina Steak Burger, ambos dentro do Ville des Plantes. É um evento que celebra o vinho, a boa mesa e os encontros. O Ville tem essa atmosfera acolhedora e vibrante, e o festival nasceu exatamente para potencializar isso — brindar à vida e às conexões que ela nos oferece.
Fonte: Assessoria