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Foto: Divulgação

Fred Paulino: “A gambiarra é uma metáfora para acessar outros universos, e no Hacklab Volante fazemos essa relação da arte com a tecnologia”

Artista e idealizador do Hacklab Volante fala sobre o projeto que une arte, ciência e educação - e que chega a João Pessoa no final de agosto

14 de agosto de 2025

Um micro-ônibus transformado em ateliê, galeria de arte, museu de engenhocas e feira de ciências sobre rodas. Assim é o Hacklab Volante, projeto criado pelo artista e curador Fred Paulino, que estará em João Pessoa entre os dias 30/8 e 14/9 com uma proposta ousada: levar experiências criativas, educativas e sustentáveis para as ruas, escolas e espaços públicos da cidade.

Ao longo de duas semanas, o Hacklab estaciona em locais como a Lagoa, o Largo de São Frei Pedro Gonçalves e o Busto de Tamandaré, oferecendo ao público interação gratuita com obras de arte eletrônica, engenhocas sonoras e visuais, além de um ambiente que provoca a curiosidade e inspira a imaginação. Tudo isso embalado pelo conceito de “gambiologia” — uma forma de pensar a tecnologia a partir da criatividade popular e do reaproveitamento de materiais.

Além da exposição itinerante, o projeto promove oficinas de iniciação à eletrônica e design de produtos com estudantes da rede pública, através dos chamados “Businhos”. São atividades educativas que combinam tecnologia acessível, sustentabilidade e inovação social.

Nesta entrevista, Fred Paulino fala sobre a trajetória da Gambiologia, os objetivos do Hacklab Volante e o que o público pessoense pode esperar da passagem do projeto pela capital paraibana. Confira:

Fred, o que é a Gambiologia e como ela começou?
Temos um coletivo chamado Gambiologia que começou em 2008. Então, já são quase 20 anos de trajetória. Começou realmente como um grupo de artistas trabalhando, e aí em algum momento se capilarizou e virou uma espécie de produtora cultural, uma agência de design, produção de conteúdo, curadoria. Hoje, funcionamos como uma produtora cultural da qual eu sou responsável, mas 99% do que produzimos é coletivo, sempre mobilizando outras pessoas, artistas, designers, e com ações que têm ambição de escala, em termos de público e de pessoas envolvidas.

Qual é a essência conceitual da Gambiologia?
Fazemos um trabalho que relaciona arte e tecnologia, com um olhar forte para educação, para a questão social e para a sustentabilidade. A gambiarra é uma metáfora para acessar outros universos, e no Hacklab fazemos essa relação da arte com a tecnologia. Pensar em tecnologia tendo a gambiarra como inspiração, como cultura da invenção, mexendo com outras tecnologias que não são apenas digitais. É sobre produção colaborativa, reinvenção de materiais, trabalhar na periferia com poucos recurso.

Onde surgiu o projeto?
A Gambiologia nasceu em Belo Horizonte (MG) e rapidamente se tornou uma referência. É difícil sustentar um projeto autoral por tantos anos, e isso já é um diferencial. E fomos pioneiros também nesse olhar de levar a cultura “maker” brasileira, de um país em desenvolvimento, para fora. Já fui para diversos países: EUA, Japão, África do Sul, Cuba… levando palestras, oficinas, participando de exposições. O projeto já é bem consolidado nesse sentido, com reconhecimento internacional.

E como é o projeto na prática?
Ações educativas, oficinas em eventos, festivais onde somos convidados, projetos próprios em comunidades. Temos articulação com escolas, universidades, empresas. Organizamos exposições, como a Gambiólogos, que agora está na quarta edição, publicamos uma revista, realizamos ações ligadas a consertos. Temos um programa chamado Café Conserto, em Brumadinho. Por estarmos nesse universo da arte e tecnologia, temos esse olhar internacional, mas com um sotaque brasileiro.

Como surgiu o Hacklab Volante?
O Hacklab Volante foi criado em 2022, a partir de uma proposta de um patrocinador que buscava um projeto itinerante. Vimos nisso a chance de ter uma exposição sobre rodas, formar um acervo próprio e ir para cidades menores, periféricas, que não dependessem de estrutura física para receber uma mostra. Já fomos para o interior do Maranhão, do Pará, cidades pequenas, com a mesma exposição que levamos para grandes capitais. Agora estamos na quarta temporada de circulação.

Por onde o projeto já passou?
Fizemos várias cidades no interior de Minas, interior de São Paulo, Belo Horizonte. Há dois anos, fizemos no Maranhão e no Pará. Este ano passamos por Brasília. Agora é a primeira vez que vamos para o Nordeste, com apoio da FUnarte, por meio do prêmio Marcantônio Vilaça. Vamos visitar Natal, João Pessoa e Recife, durante duas semanas em cada cidade.

Como funciona a visita ao ônibus?
O ônibus é uma exposição. Ficamos por seis horas por dia com monitores recebendo grupos de pessoas, que ficam de 10 a 15 minutos lá dentro. Há esculturas, ferramentas, engenhocas, e até um microcinema.

Qual o perfil do público que vocês recebem?
É bem universal. A criança gosta do som, das luzes, do ambiente imersivo. Adultos e idosos se conectam com a memória das oficinas em casa, do avô inventor que consertava coisas. É um imaginário de outras épocas da tecnologia. E tem acessibilidade: o ônibus tem rampa para cadeirantes, audiodescrição. É um projeto que tem retorno positivo de todos os públicos. Tem até um quadro de inspirações, com personagens como o Professor Pardal e o MacGyver, logo na entrada.

E as oficinas? Como acontecem?
As oficinas acontecem nas escolas públicas, com crianças do quinto e sexto ano. São duas oficinas por escola, atendendo uma média de 30 crianças por turma. A oficina se chama “Businhos”, que é um objeto decorativo, um colar, feito com LED’s pisca pisca, personalizado por cada criança. Em média, a oficina dura uma hora e meia. Já atendemos mais de 3 mil crianças com essa atividade.

Como será a programação do Hacklab Volante em João Pessoa?
Vamos fazer uma programação intensa na cidade, entre os dias 30 de agosto e 14 de setembro. Serão oito exposições em espaços públicos e culturais de João Pessoa, além de seis oficinas em três escolas da rede municipal. Começamos no sábado, dia 30, na Lagoa, das 14h às 20h. Depois passamos por lugares como a Praça do Coqueiral, Escola Anayde Beiriz, Usina Energisa, Largo de São Frei Pedro Gonçalves e encerramos no Busto de Tamandaré, no domingo, dia 14, das 10h às 17h. Já as oficinas vão acontecer em três escolas: Afonso Pereira, Anayde Beiriz e Antonia Socorro Silva Machado, sempre pela manhã, atendendo duas turmas por escola. É uma programação bem distribuída, pra alcançar diferentes públicos da cidade, em diferentes territórios.

Fonte: Vivass Comunicação