
Sindalcool emite nota em defesa do etanol e do açúcar brasileiros após confirmação de tarifa dos EUA
Sindicato paraibano emite nota técnica destacando assimetria comercial e impacto ambiental da medida norte-americana
1 de agosto de 2025
O Sindalcool, sindicato que representa as usinas de etanol e açúcar na Paraíba, divulgou nesta sexta-feira (1º) uma nota pública “Pela defesa do etanol brasileiro, do equilíbrio comercial e de uma parceria estratégica e sustentável com os Estados Unidos”, em reação à confirmação da nova tarifação anunciada pelos Estados Unidos, que deve entrar em vigor no próximo dia 6 de agosto.
Segue abaixo a nota oficial na íntegra:
Pela defesa do etanol brasileiro, do equilíbrio comercial e de uma parceria estratégica e sustentável com os Estados Unidos
O Brasil, que detém quase 50% das exportações mundiais, tem direito a apenas 155 mil toneladas e viu recentemente a eliminação da cota de açúcar orgânico — medidas que afetam diretamente regiões como a Paraíba.
Brasil e Estados Unidos respondem juntos por cerca de 80% da produção mundial de etanol, e têm, portanto, uma responsabilidade compartilhada na promoção global dos biocombustíveis como solução para a descarbonização do transporte, da aviação e do setor marítimo. No entanto, a assimetria atual nas políticas comerciais e ambientais entre os dois países impõe obstáculos à construção de uma aliança verdadeiramente estratégica.
Enquanto o Brasil substitui 45% da gasolina no ciclo Otto por etanol, os EUA mantêm a mistura em apenas 10%. A produção americana alcança 60 bilhões de litros, com um excedente de 7 bilhões de litros que são exportados agressivamente, muitas vezes com apoio diplomático e tarifário. O Brasil, por sua vez, possui um mercado equilibrado, com forte crescimento da produção de etanol de milho, inclusive com chegada ao Nordeste, e não tem necessidade estrutural de importar etanol. A tarifa de 18% vigente é uma salvaguarda legítima, especialmente diante dos impactos verificados durante surtos de importação, como os de 2017 e 2018.
O etanol brasileiro, especialmente o produzido a partir da cana-de-açúcar, possui uma pegada de carbono significativamente menor: 22 gCO₂/MJ contra 66 gCO₂/MJ do etanol americano de milho. Adotar etanol importado com maior intensidade de carbono contraria os compromissos ambientais do Brasil e os objetivos globais de descarbonização, sobretudo às vésperas da COP sediada em território nacional.
Adicionalmente, o mercado americano de açúcar permanece altamente protegido, com uma cota global de 1,1 milhão de toneladas distribuída entre 42 países. O Brasil, que detém quase 50% das exportações mundiais, tem direito a apenas 155 mil toneladas e viu recentemente a eliminação da cota de açúcar orgânico — medidas que afetam diretamente regiões como a Paraíba e o Nordeste do Brasil.
Ressaltamos que a presente tarifação se trata de um acréscimo sobre a taxa de 83% sobre o açúcar brasileiro que os Estados Unidos mantiveram nos últimos 30 anos como defesa do mercado à produção local.
Ainda assim, nós no Brasil estamos dispostos a ampliar o engajamento com os Estados Unidos, evitar julgamentos precipitados, administrar as diferenças com maturidade e explorar mecanismos consistentes de cooperação. É urgente fortalecer canais bilaterais de comunicação e consulta, baseados em visão objetiva, racional e pragmática, promovendo uma percepção estratégica correta entre as partes. Relações baseadas em unilateralismo e práticas de pressão comercial (bullying) devem ser substituídas por respeito mútuo, previsibilidade e construção de confiança.
O futuro dessa relação passa por investimentos mútuos sustentáveis. Nós do Brasil vemos oportunidades reais para a ampliação de investimentos norte-americanos, em especial em regiões estratégicas como o estado da Paraíba e o Nordeste brasileiro, territórios com grande potencial na bioenergia. Da mesma forma, espera-se o reconhecimento e a ampliação dos investimentos brasileiros nos Estados Unidos, criando um ecossistema de inovação e geração de valor recíproco.
O Sindalcool reitera seu compromisso com a sustentabilidade, a justiça climática, a integridade econômica do setor sucroenergético e a construção de uma agenda bilateral baseada na cooperação, na equidade e na confiança mútua. O etanol brasileiro não é apenas um produto – é uma solução climática de alcance global.
Fonte: Assessoria