
Governo do Estado financia pesquisa e ajuda agricultores do Sertão na produção do maracujá amarelo
Estudo da UEPB mostra que uso de silício, adubo orgânico e cobertura vegetal aumenta produtividade e reduz consumo de água no cultivo
9 de abril de 2025
A ciência chega para auxiliar os agricultores do município de Catolé do Rocha, Sertão paraibano, no cultivo do maracujá-azedo também conhecido por maracujá amarelo. Alunos e professores do Centro de Ciências Humanas e Agrárias da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) descobriram, durante pesquisa, que o uso do silício (elemento químico benéfico às plantas) associado com o esterco bovino e a cobertura vegetal morta minimizam os efeitos adversos da falta de água e da salinidade, diminuindo o consumo de água sem perda de produtividade para a cultura do maracujá amarelo.
O experimento resultou em frutos maiores com melhor rendimento de suco. “Os frutos de maracujá-azedo colhidos apresentaram características físico-químicas adequadas tanto para a indústria quanto para o mercado de consumo in natura”, afirmou o coordenador da pesquisa, Evandro Franklin de Mesquita. Os frutos do maracujá amarelo são ricos em vitamina A, vitamina C e vitaminas do complexo B, além de conterem minerais como cálcio, ferro, fósforo, sódio e potássio, sendo um fruto de grande aceitação no mercado paraibano. Além disso, o desperdício é mínimo, garantindo uma renda extra aos agricultores familiares.
O projeto de pesquisa coordenado pelo professor Evandro Franklin de Mesquita visa contribuir para a utilização de silício (Si) via solo, no crescimento, produção e qualidade dos frutos de maracujazeiro amarelo tipo BRS GA1 (Gigante Amarelo), em Catolé do Rocha.
Os resultados da pesquisa foram promissores para a fruticultura paraibana, tais como melhoria da fertilidade natural pelo uso do esterco bovino (adubo orgânico), e a prática conservacionista da cobertura vegetal morta que reduziu as perdas de água por evaporação do solo e transpiração das plantas, deixando o solo mais úmido e menos aquecido no ambiente das raízes.
Essa pesquisa foi possível devido o apoio do Governo do Estado, com financiamento de R$ 68 mil, por meio do edital Demanda Universal, executado pela Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq).
Há muitos anos se reconhece que o silício desempenha um papel importante na produtividade das plantas ao melhorar as deficiências nutricionais e aumentar a resistência, oferecendo grandes benefícios para a agricultura como: aumento de produtividade; formação de uma barreira física contra pragas e intempéries do tempo; aumento da resistência da planta contra elementos tóxicos e a salinidade; melhora da taxa de fotossíntese; regulação da perda de água da planta por transpiração, entre outros.
A aplicação de silício associado à adubação orgânica e à cobertura vegetal morta no Semiárido paraibano tem apresentado resultados bem-sucedidos em culturas como: feijão-caupi, melancia, genótipos de maracujá, pinha, entre outras.
Conforme orienta Evandro, o silício pode ser aplicado diretamente no solo ou pelas folhas. O ácido silícico é puro e diluído em água, atuando como aditivo para a fabricação de fertilizantes, age como agente suspensor, melhorando a homogeneização e suspensão das misturas. O produto é encontrado na faixa de R$ 14,60/kg, e sua aplicação é bem menor do que outros adubos químicos.
Desenvolvimento da pesquisa
O experimento foi desenvolvido no período de janeiro de 2022 a dezembro de 2024, em área experimental do Centro de Ciências Humanas e Agrárias, Campus IV/UEPB, onde foram utilizadas doses de silício no solo, equivalentes 0, 45, 90, 135 e 180 kg por hectare, com a adição de matéria orgânica, com e sem cobertura vegetal na projeção da copa. Nos tratamentos com adição de matéria orgânica, foram adicionados 7,70 kg de esterco bovino por cova para elevar o teor de matéria orgânica do solo.
“Foi considerada importante estratégia de manejo para a restauração da cultura do maracujá amarelo no Semiárido, atenuando os efeitos adversos provenientes da alta temperatura, a salinidade da água e o déficit hídrico, propondo um ambiente adequado para as plantas, visto que o manejo utilizado proporcionou uma maior eficiência do uso da água em uma região com baixos índices de chuva [< 700 mm/ano]”, afirmou o coordenador da pesquisa.
Os resultados da pesquisa demonstraram ser promissores para a microrregião de Catolé do Rocha a aplicação de doses acima de 82 gramas de silício por planta, associado com aplicação de matéria orgânica, promovendo maior nutrição mineral do maracujazeiro-azedo e melhorando a saúde do solo, resultando em uma maior produtividade de frutos.
Conforme resultados do estudo, a produtividade média de 25 t/ha obtida na pesquisa foi superior aos 9,61, 14,54 e 14,87 toneladas por hectare reportados na Paraíba, no Nordeste e no Brasil, respectivamente, de acordo com dados do IBGE (2022). “Essa superioridade destaca o potencial produtivo do maracujá-amarelo sob as condições de manejo adotadas nesta pesquisa”, enfatizou Evandro. Essa pesquisa contribuiu para a criação de outro projeto para a microrregião de Catolé do Rocha, intitulado: Aspectos ecofisiológicos, nutricionais, biomoleculares, produção e qualidade pós-colheita de genótipos de maracujazeiro sob déficit hídrico e aplicação de silício no Semiárido.
Entre as dificuldades encontradas pela equipe para a execução do projeto, o professor Evandro Franklin cita as condições climáticas na microrregião de Catolé do Rocha; temperaturas superiores a 30 °C e a baixa umidade relativa do ar inferior a 40%, além da falta de mão-de-obra qualificada para a cultura.
Segundo salientou o coordenador do projeto, “a Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba contribuiu eficientemente na restauração do cultivo do maracujá-azedo na microrregião de Catolé do Rocha. Sem os recursos disponibilizados pela Fapesq não seria possível a implantação da pesquisa”, enfatizou.

