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Foto: Divulgação

Clija Chait: “A culinária nordestina merece reconhecimento global por sua riqueza de ingredientes, técnicas ancestrais e profundidade cultural”

Empreendedora fala sobre sua trajetória inspiradora na gastronomia global, destacando a importância das raízes nordestinas, os desafios de adaptação em mercados internacionais e a valorização da autenticidade e tradição culinária

13 de fevereiro de 2025

Natural de Cerro Corá, no interior do Rio Grande do Norte, Clija Chait construiu uma trajetória impressionante no mundo dos negócios, especialmente no setor gastronômico. Criadas pelos avoós de quem herdou o apreço pela culinária nordestina, ela deu início à sua carreira aos 18 anos, ao se mudar para Natal-RN, onde trabalhou em bares, preparando e servindo coquetéis. Essa experiência prática foi o primeiro passo para uma ascensão profissional que a levou a assumir funções na gestão administrativa de restaurantes, onde consolidou seu conhecimento e habilidades no ramo.

Aos 24 anos, Clija mudou-se para São Paulo e ampliou ainda mais sua expertise ao gerenciar restaurantes italianos. Hoje, casada e sócia de Bill Chait – renomado restaurateur -, Clija está à frente de mais de 20 empreendimentos nos Estados Unidos e Coreia do Sul, abrangendo restaurantes, bares, lojas de vinhos e padarias. Com um olhar visionário e gestão estratégica, ela se tornou uma das principais referencias no cenário gastronômico internacional.

Aos 24 anos, mudou-se para São Paulo, onde ampliou ainda mais sua experiência ao trabalhar na administração e gestão de restaurantes italianos. Hoje, casada e sócia de Bill Chait – renomado restaurateur –, Clija está à frente de mais de 20 empreendimentos nos Estados Unidos e na Coreia do Sul, incluindo restaurantes, bares, lojas de vinhos e padarias. Com um olhar visionário e uma gestão estratégica, ela se tornou uma referência na indústria gastronômica internacional. Confira abaixo a entrevista exclusiva para o Portal Paraíba Total:

Como suas raízes nordestinas e a cultura potiguar influenciam sua visão e abordagem na gastronomia? Há algum elemento da culinária nordestina que você gostaria de ver ganhar mais destaque internacionalmente?

Toda a minha base na gastronomia vem das minhas lembranças e aprendizados com minha avó, que, para mim, sempre foi minha mãe, pois foi ela quem me criou. Foi ao seu lado que desenvolvi meu afeto pela culinária e compreendi a riqueza dos sabores nordestinos. Ao longo dos anos, ampliei esse conhecimento viajando e participando de projetos com chefs renomados de diferentes países, mas a essência da gastronomia nordestina sempre permaneceu no meu coração.

Mesmo conhecendo a diversidade culinária ao redor do mundo, ainda não encontrei algo tão autêntico e cheio de identidade quanto à gastronomia nordestina. Sempre que recebo chefs em minha casa, faço questão de celebrar a culinária brasileira à mesa, destacando pratos icônicos da nossa cultura, como buchada de bode, bobó de camarão, moqueca de peixe, feijoada, pastelzinho e, é claro, o cuscuz, que jamais pode faltar. São sabores que representam não apenas a minha história, mas o orgulho que tenho das minhas raízes.

Acredito que a culinária nordestina merece ainda mais reconhecimento internacional, especialmente por sua riqueza de ingredientes, técnicas ancestrais e profundidade cultural.

Espero ver pratos nordestinos ganhando mais espaço no cenário global, pois eles carregam a alma do Nordeste e mostram ao mundo a força da nossa gastronomia.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao construir sua carreira na indústria da gastronomia nos EUA, e como você os superou?

A adaptação à cultura americana foi um dos desafios mais complexos que enfrentei. Cheguei com a leveza e a doçura nordestina, mas logo percebi que, dentro da indústria gastronômica, uma postura firme e exigente era essencial para conquistar liderança e sucesso em qualquer projeto.

No início, foi um choque cultural, especialmente porque minha abordagem era mais acolhedora, algo muito característico da nossa cultura. No entanto, com o tempo, aprendi a equilibrar minha essência com a necessidade de ser assertiva e estratégica. Esse processo de adaptação me fortaleceu e hoje me sinto muito mais confiante e preparada para lidar com os desafios da minha empresa e do mercado gastronômico nos EUA.

Em suas viagens pelo mundo, quais foram as descobertas mais surpreendentes ou inspiradoras que você fez sobre culinárias de outros países?

Viajar é um aprendizado indescritível. Acredito que se aprende com mais profundidade quando se vê, toca, sente e prova. Cada cultura que conheci me trouxe descobertas singulares, sensações marcantes e conhecimentos que aplico em todos os meus projetos.

Em Hong Kong, por exemplo, aprendi que quase todas as partes dos animais são aproveitadas na culinária, o que me fez refletir sobre respeito aos ingredientes e redução do desperdício. Também percebi que o melhor da gastronomia nem sempre está em um restaurante estrelado pelo Michelin, mas sim na autenticidade das tradições locais.

Na Itália, vivi experiências tão diversas que cada cidade me pareceu um país diferente. A variação das massas, a forma como as etapas das refeições são servidas e o profundo respeito pelos ingredientes e pela cultura me fascinaram.

Já na Espanha, um dos meus países favoritos, fui convidada para mesas onde a gastronomia é tratada com uma reverência única. Lá, percebi o quão importante é preservar a identidade culinária e honrar as tradições que fazem parte da herança cultural de um povo.

Essas vivências não apenas ampliaram minha visão sobre a gastronomia mundial, mas também fortaleceram minha conexão com a minha própria cultura e a forma como celebro a comida no meu dia a dia.

Como a mentoria de Bill Chait e a colaboração com chefs renomados moldaram sua trajetória e visão como empresária na gastronomia?

Bill Chait foi — e continua sendo — uma das pessoas mais incríveis que já conheci na indústria gastronômica. Grande parte do que aprendi e aplico hoje vem dos seus ensinamentos, mas sempre busquei adaptar esse conhecimento à minha própria visão e maneira de explorar o mercado.

Acredito que aprendizado é um processo contínuo, e a gastronomia, assim como qualquer outra área, evolui diariamente. Minha experiência trabalhando ao lado de chefs renomados ao redor do mundo tem sido essencial para essa atualização constante. Viajar, vivenciar novas culturas e trocar conhecimentos com profissionais de diferentes países me permite não apenas aprimorar técnicas, mas também trazer uma perspectiva mais ampla e inovadora para meus projetos.

Essas colaborações moldaram minha visão como empresária, reforçando a importância da autenticidade, da adaptação e do respeito às tradições culinárias, ao mesmo tempo em que me inspiram a inovar e criar novas experiências gastronômicas.

Quais são seus planos para expandir ainda mais a TartineBakery, e como você equilibra a autenticidade da marca com as adaptações necessárias para diferentes culturas?

A Tartine está em constante expansão, sempre abrindo novas lojas e conquistando um espaço único no mercado. Meus sócios,, eu e toda a equipe trabalhamos com o compromisso de manter a essência da marca enquanto exploramos novas oportunidades de crescimento.

Já estamos presentes em países como Coreia do Sul e cidades como São Francisco e Los Angeles, e nosso objetivo é continuar crescendo dentro e fora dos Estados Unidos. O que torna a Tartine especial é justamente essa capacidade de adaptação sem perder sua autenticidade. Apesar de nossos produtos terem uma identidade própria, conseguimos incorporar nuances locais para atender diferentes culturas, sempre preservando a qualidade que nos define.

E, claro, tem novidade chegando! Mas assim que tudo estiver pronto, prometo contar mais (risos).

Como você enxerga o seu legado na indústria da gastronomia, e qual conselho daria para jovens empreendedores que desejam seguir um caminho semelhante ao seu?

Independentemente do país ou mercado em que se atue, a gastronomia – assim como qualquer outra indústria – sempre traz desafios. O mais importante é estar preparado. Antes de tirar um projeto do papel, é fundamental adquirir o máximo de conhecimento sobre a área, entender o conceito que se quer desenvolver, conhecer seu público e garantir que cada detalhe proporcione uma experiência inesquecível para quem se senta à sua mesa.

Minha trajetória foi construída entre acertos e erros. Já abri e fechei restaurantes, assim como também criei conceitos que se consolidaram com sucesso. Com o tempo e mais maturidade, aprendi a agir com mais cautela e estratégia. Quando se tem investidores e uma equipe que deposita confiança em você, a dedicação precisa ser total, e a responsabilidade exige um nível de entrega muito maior.  

Meu maior conselho para jovens empreendedores é: persista. O caminho pode ser desafiador, mas quando você se adapta à rotina intensa e transforma uma ideia em um conceito de sucesso, percebe que a maior recompensa não é apenas financeira. O verdadeiro prazer está em ver pessoas felizes, reunidas ao redor da mesa, compartilhando momentos especiais. Esse, para mim, é o verdadeiro legado.  

Fonte: Redação