Psicologia e relações: euforia e angústia de fim de ano
Célia Chaves fala sobre como entre euforias e melancolias, dezembro é um convite para repensar cobranças, cultivar afetos e acolher o que nos torna humanos
2 de janeiro de 2025
Sinônimo de festas, confraternizações e alegrias, na vida de muitos. Para outros, nem tanto. Dezembros trazem reações, percepções e sensações das mais variadas, traduzidas por sentimentos de euforia, tristeza, angústia, solidão – ou solitude -, compartilhamento e também desejo de caber em uma concha, aquela carapaça “protetora”, capaz de provocar isolamento social, que alimenta ainda mais a chamada depressão de final de ano.
Esse estado de melancolia, síndrome de fim de ano, ganhou até um neologismo, que está na moda, rolando nas redes: a tal dezembrite. O humor depressivo bate à porta sem pedir licença, e prefiro não falar em gatilhos, por acreditar mais na conjunção de vários fatores: lembranças afetivas; angústias acumuladas; ideia de não pertencimento; o próprio temperamento, além da personalidade; perdas; solidão; e uma infinidade de sentimentos que possam nos atravessar. Afinal, viver não é tão fácil. Mas estamos em construção, aprendendo sempre, de dezembro a dezembro.
Às vezes, temos estranha mania de embarcar naquele ritmo emocional do “então é natal e o que você fez?”. Enveredamos por um balanço que tem o poder de empurrar ladeira abaixo qualquer autoestima, pelo simples fato de termos passado longe de cumprir o rosário de metas impostas por nós mesmos ou pela sociedade. Sim, o objetivo nem era meu, mas internalizei como fosse, para agradar aos outros.
Sofremos por não alçar voos que sequer poderiam ser chamados de nossos sonhos. Ou até sim, porque o desejamos de verdade, mas o tempo da conquista será outro. E tudo certo… Precisamos nos acolher como humanos, para que brotem dezembros menos exigentes e punitivos. Encerremos o ano com mais esperanças, menos cobranças, juízes e tribunais para chamar de seu.
A maior de todas as conquistas é termos chegados até aqui, em tempos pós-pandêmicos, quando perdas lotaram prateleiras da vida e morte. Mas parece que pouco aprendemos. Pelo menos em termos de empatia, solidariedade, aceitação e amor. Ainda assim nos resta oceano de possibilidades. E se trocássemos afetos em forma de presentes?
Recheássemos a nossa lista de aquisições com riquezas que vaidades e dinheiro algum compram, mas que constituem itens essenciais à vida de qualquer pessoa. Cada um iria pensar naquilo que realmente importa, considerando faltas e excessos. Seja de amor, abraços, amigos, família, calor humano, escuta, acolhimento, saúde ou de um olhar mais humanizado.
Somos seres faltantes e desejantes, por natureza. Somente sentimos desejo daquilo que nos faz falta… É comum que, ao final do ano, algumas faltas se sobreponham, provocando vazios e terremotos emocionais, em formatos de depressão, ansiedade e todo tipo de angústia.
A notícia boa é que, após o término das festas, quando se trata, de fato, da chamada depressão de natal, esse sofrimento passa. A pessoa segue normalmente, com esperança, motivação e reserva de saúde emocional. Até outros dezembros chegarem, com luzes, cores e sabores que ora iluminam, ora afugentam a alma.
Feliz ano novo !
Sobre Célia Chaves
Ela reúne os títulos de psicóloga clínica, psicanalista em formação, jornalista, palestrante e terapeuta de grupo. Além de colunista do Paraíba Total, Célia realiza atendimentos presenciais, on-line e domiciliar. Para saber mais o Instagram é @psicologaceliachaves
Fonte: Célia Chaves