Economia circular: desafios e oportunidades para a indústria brasileira
Como a economia circular pode ganhar escala protegendo o meio ambiente e realizando todo o seu potencial socioeconômico
2 de setembro de 2024
Economia circular é um conceito que associa o desenvolvimento socioeconômico e o bom uso de recursos naturais, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis. Ela está fortemente relacionada a uma maior sustentabilidade ambiental ao contribuir para a redução de resíduos e uma maior eficiência energética.
Por meio dela, busca-se estender a vida útil dos produtos e materiais a partir de iniciativas de reutilização, reciclagem e recuperação nos processos de produção, distribuição e consumo. Na indústria, isso implica em reduzir a quantidade de recursos e matérias-primas necessárias para fabricar o mesmo produto, mantendo o mesmo nível de qualidade. Desse modo, diferentes tipos de resíduos, como roupas, sucata de metal e eletrônicos obsoletos, são reintegrados ou utilizados de forma mais eficiente.
Os processos circulares podem ser agrupados em quatro categorias, da mais impactante para a de menor impacto:
1. Reduzir por meio do design: reduzir a quantidade de material utilizado, especialmente matéria-prima, deve ser aplicado como um princípio orientador geral desde as primeiras etapas de design de produtos e serviços.
2. Do ponto de vista da(o) usuária(o) para usuária(o): Recusar, Reduzir e Reutilizar.
3. Do ponto de vista intermediário da(o) usuária(o) para a empresa: Reparar, Recondicionar e Remanufaturar.
4. Do ponto de vista de empresa para empresa: Reaproveitar e Reciclar.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), manter os materiais por mais tempo na economia por meio de reutilização, reaproveitamento ou reciclagem poderia reduzir 33% das emissões de dióxido de carbono incorporadas nos produtos. O Brasil ainda precisa avançar mais nesse sentido: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, a cada ano, mais de R$ 8 bilhões em materiais vão para aterros e lixões em vez de serem reciclados.
Além de gerar impactos positivos ao meio ambiente, a adoção de um modelo de economia circular tem o potencial de gerar novas oportunidades para a indústria, o comércio e para a criação de empregos em diferentes setores. Para a indústria, as seguintes oportunidades podem ser destacadas, conforme indica a OCDE:
• Redução dos custos dos materiais;
• Fortalecimento da cadeia de valor e dos parques industriais;
• Diferenciação de mercados;
• Regularização de trabalho informal e geração de novos empregos;
• Incentivo à pesquisa sobre matérias primas mais seguras, renováveis e atóxicas;
• Criação de negócios com estratégias de manutenção de valor e resilientes;
• Redução do uso de recursos primários por meio da recuperação de recursos e/ou do design.
Desafios
Entre os desafios pontuais a serem superados, cabe destacar as limitações de infraestrutura, a falta de incentivos e a perda de valor no descarte inadequado de resíduos. Para a Indústria, um grande desafio é que empresas desenvolvam novos modelos de negócio que agreguem valor ao produto/serviço.
No Brasil, há inovações em modelos de negócios circulares nos formatos de Produto como serviço, Compartilhamento, Extensão da vida do produto, Insumos circulares, Recuperação de recursos e Virtualização. Há exemplos de indústrias em diversos segmentos da economia desenvolvendo uma série de ações de economia circular, como o design modular realizado pela Precon Engenharia; a escolha de matérias-primas mais seguras, renováveis e atóxicas adotada pela Tarkett e C&A; e a regularização do trabalho informal e a geração de novos empregos na Rede Asta. Mas ainda é necessário superar os desafios existentes para que seja possível ocorrer uma transição do modelo econômico atual para um mais sustentável e circular.
Para que a economia circular ganhe escala e realize todo o seu potencial ambiental e socioeconômico no país, é necessário criar as condições facilitadoras necessárias, como educação para desenvolvimento de competências, políticas públicas específicas, infraestrutura voltada à circularidade e tecnologias inovadoras. A colaboração entre diferentes atores-chave é importante, e as empresas podem assumir um papel mais ativo e liderar ações nesse sentido. Em especial, as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) necessitam de apoio para que possam acompanhar a transição para o modelo circular.
As seguintes linhas de atuação se destacam para fortalecer a economia circular no Brasil:
Políticas públicas
• Tratamento fiscal e regulamentação adequadas;
• Compras públicas sustentáveis; e
• Geração de empregos de qualidade.
Educação
• Campanhas educativas amplas; e
• Capacitação profissional.
Pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I)
• Inovação em design de produtos, serviços e processos;
• Desenvolvimento de métricas de circularidade; e
• Parceria entre setor privado e academia.
Financiamento
• Orientação para acesso a recursos e elaboração de projetos; e
• Ampliação das linhas de financiamento para economia circular.
Mercado (ambiente de negócios)
• Material em quantidade e qualidade para reciclagem;
• Cooperação em um ambiente competitivo; e
• Identidade da indústria brasileira como sustentável (circular).