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Foto: Divulgação

Márcia Peixoto: “Precisamos parar com as discriminações e pensar nas potencialidades de cada pessoa, independente da idade”

Especialista em Recursos Humanos analisa desafios e inovações da Geração Z no mercado de trabalho

15 de agosto de 2024

Em um cenário cada vez mais dinâmico, a entrada dos jovens no mercado de trabalho tem gerado muitas reflexões. Estes novos profissionais têm trazido uma abordagem distinta e inovadora para o ambiente de trabalho, marcada por uma forte imersão tecnológica e novas expectativas – e, ao mesmo tempo, demonstram um certo grau de instabilidade e insatisfação diante de alguns serviços e regras.

Márcia Peixoto, psicóloga com mais de 20 anos de experiência na área de gestão de pessoas e proprietária da Roots Talent, compartilha suas percepções sobre como os jovens da Geração Z – pessoas na faixa etária entre 12 e 27 anos – contribuem com o ambiente profissional e as implicações para as empresas que buscam integrar diferentes gerações em suas equipes. Na entrevista que segue, Márcia conta que é comum observar que, entre as principais características dessa geração, está a maior busca por reconhecimento e valorização do seu trabalho. “Existe um desejo maior por feedbacks. Além disso, eles se mostram mais críticos e dispostos a debater”, comenta a especialista.

Confira a entrevista completa:

Como a senhora enxerga a percepção de valores e expectativas dessa geração em relação ao trabalho e à vida profissional?

A expectativa é mais acelerada. Eles são mais imediatistas. Além disso, percebo que os jovens dessa nova geração estão mais desapegados, de um modo que, por vezes, chega a ser descompromissado. Até mesmo durante o processo seletivo. Quando chamo uma pessoa mais jovem para uma entrevista, a tendência é ela me fazer várias perguntas. Geralmente, não se interessam em saber a data da entrevista, já querem tirar todas as dúvidas. E quando agendamos uma entrevista, não há um comprometimento em dar retorno. Então, percebo fortemente que isso não é legal para as empresas, porque essa falta de compromisso leva a uma tendência de abandonar a empresa.

Uma queixa ente os mais jovens é a dificuldade de entrar no mercado de trabalho. Isso é real?

O mercado de trabalho habitualmente pede profissionais com experiência. Eu mesma já recebi várias queixas de jovens sobre como poderiam ter experiência se não recebem oportunidades. Mas percebo que isso vem melhorando e, atualmente, a idade vem influenciando positivamente a entrada de jovens no mercado de trabalho por meio de programas como o Jovem Aprendiz. Esse programa, na minha opinião, é excelente! E, se bem aproveitado pelo jovem, a oportunidade de entrar e aprender é muito grande. É uma boa maneira de adquirir experiência. No entanto, não podemos descartar a realidade dos jovens que não possuem experiência e não se adequam mais ao programa. A dificuldade aumenta consideravelmente porque muitas empresas não querem parar a rotina para ensinar quem está chegando; preferem receber um profissional que já venha “pronto”.

Sobre a convivência entre diferentes gerações dentro de uma organização: existe alguma dificuldade para lidar com visões de mundo distintas? E de que forma uma empresa pode contribuir para a união do trabalho entre diferentes faixas etárias?

No meu entendimento, tudo depende da cultura e do estímulo que a empresa dá. Porque é uma troca de experiências muito boa. Você tem um jovem com um conhecimento tecnológico muito forte trabalhando junto de alguém com mais idade, que possui uma experiência e vivência muito maior na área que exerce, podendo unir seus conhecimentos. Então, o que pode atrapalhar é a falta de estímulo da empresa no sentido de unir essas duas visões. Acredito que, se essas duas gerações estiverem unidas, o resultado para a empresa será muito mais positivo. Dessa forma, defendo que as empresas deveriam considerar uma mescla de faixas etárias nas suas contratações, priorizando as competências dos candidatos. E, na rotina interna, estimular essa união nas atribuições. Estimular o trabalho em conjunto entre uma equipe multidisciplinar e de diferentes idades faria uma diferença muito grande.

Essa nova geração está bastante envolvida em relação a assuntos tecnológicos. Você acredita que a Geração Z tem trazido mudanças efetivas para o mercado como um todo em relação ao uso da tecnologia nas rotinas de trabalho?

Eu entendo que sim! Os jovens dessa geração têm muita habilidade. Nós, que viemos de uma geração anterior, vimos isso tudo se desenvolver, mas ainda não nos era cobrado nessa proporção. Hoje, esses jovens já nasceram imersos na tecnologia. E esse conhecimento acompanha o jovem em termos de facilitar o processo de absorver e implantar novos sistemas que entram na empresa e que podem melhorar e automatizar etapas nas rotinas de trabalho. Acredito que essa desenvoltura contribui sim para o alcance de cargos de liderança, principalmente em determinadas áreas como a de Tecnologia da Informação, por exemplo. Quanto mais aptidão, mais longe se pode chegar. Esse não é um fator determinante, mas percebe-se que essa geração tem uma tendência maior, que, se souber explorar, possui mais facilidade de se adaptar mais rápido.

Quando em cargos de chefia, a Geração Z enfrenta algum tipo de resistência ao liderar gerações mais antigas?

Dependendo da percepção de quem estiver, sim! Principalmente na hora de liderar alguém com uma característica dominante e impositiva. Essa pessoa pode não reagir muito bem e, de certo modo, menosprezar esse líder por possuir menos idade e, talvez, menos experiência. Mas isso não acontece em todos os casos. Existem pessoas que têm mais facilidade de aceitar pessoas novas com conhecimento e uma vivência maior liderando, desde que essa pessoa nova tenha características de líder e que saiba se comportar como tal. Uma coisa que conta muito é o posicionamento desse jovem líder frente à sua equipe. Gostaria de reforçar que precisamos parar de pensar em características no sentido de mais jovem ou mais velho, homem ou mulher, orientação sexual ou religião… Esses tipos de discriminação não agregam em nada para a humanidade, muito menos para uma organização. Precisamos parar com as discriminações e pensar no profissional, no humano, nas características e potencialidades de cada um. Reforço isso porque entendo que todas as pessoas têm como contribuir para algo. Ainda percebo critérios como esses de idade, seja de um extremo ou de outro, que não contribuem para o crescimento das organizações. Acredito que os valores que as pessoas trazem, como elas resolveram formar a sua trajetória, é que fazem a diferença. Ou seja, está na mentalidade. E isso a gente só descobre com uma boa conversa, em uma boa entrevista.

Fonte: Vivass Comunicação