Enchentes no Rio Grande do Sul provocam migração de moradores para outros estados
Especialista aponta falhas estruturais e falta de manutenção como agravantes da tragédia, que levará décadas para ser superada
14 de agosto de 2024
As enchentes e alagamentos que atingiram 2,3 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul neste ano terão consequências de longo prazo. Segundo João Diniz Marcello, engenheiro e professor em Canoas, a recuperação do estado levará décadas. Ele atribui a tragédia não apenas ao volume de chuvas, mas também à construção de usinas em áreas inadequadas na Serra Gaúcha e à abertura das comportas, que, somada à inclinação acentuada da região, intensificou a força das águas.
Ele atribuiu a tragédia a uma sucessão de fatores além do volume de chuvas, que já tinha ocorrido anteriormente com volumes maiores: a construção de usinas na Serra gaúcha em locais não recomendáveis e ao excesso de chuvas que motivou a abertura das comportas e descida da água na Serra gaúcha (que tem muita declividade) com uma força muito grande, arrastando tudo o que tinha pela frente.
Proibição pelo MPE-RS e assoreamento de rios
Há 12 anos, o Ministério Público do RS proibiu a dragagem dos rios, incluindo o Guaíba, de onde se extraía areia para construção civil na região metropolitana de Porto Alegre. “Com essa proibição, os rios ficaram assoreados, mais rasos, e a água não teve onde se expandir, causando a elevação dos níveis”, explicou Diniz. Além disso, o vento sul represou a água que deveria escoar, fazendo com que o Rio Guaíba subisse ainda mais.
“E essa água chega em Porto Alegre, no Rio Guaíba, que é um rio que a gente pode considerar a palma da mão, que é alimentado por cinco outros rios maiores (Caí, Taquari, dos Sinos e Jacuí) e migra para Lagoa dos Patos, a 280 quilômetros ao sul, na cidade de Rio Grande e que vai desaguar no mar.”, acrescentou.
“Porto Alegre tem um sistema de contenção de enchentes mais moderno que existe no mundo. Tem um muro de contenção na beira do Rio Guaíba, no centro de Porto Alegre, que tem 6 metros para baixo e 3 metros para cima, com comportas e com 23 casas de bombas, porém destas, 3 estragaram, não tinham manutenção. Os portões que eram para abrir e fechar encalharam”, destacou em entrevista ao jornalista Cândido Nóbrega.
Migração sobretudo para SC
Diniz, que também atua como corretor de imóveis e perito avaliador, criticou a ineficiência do governo, apontando que muitas vítimas das enchentes, já atingidas duas ou três vezes, deixaram o estado, migrando principalmente para Santa Catarina.
O engenheiro também destacou a polarização política no Rio Grande do Sul, afirmando que essa divisão impede o crescimento do estado. “É uma realidade. O Rio Grande do Sul sempre foi um estado polarizado. Metade é Inter, metade é Grêmio, metade é PT, metade é contra o PT, então quando um vai numa direção, o outro tranca, puxa, bota tudo que é processo para parar, para que o outro não tenha sucesso, o que leva a um estado de inércia, a uma instabilidade de crescimento que faz muito tempo que infelizmente por essas questões todas políticas, vigora no Rio Grande do Sul”, lamentou.
O estado se tornará um banhado?
Diniz acredita que o estado não se tornará permanentemente um banhado, desde que as autoridades cumpram suas promessas e tomem as medidas necessárias. “Tem possibilidades técnicas, viáveis, de se controlar essas questões, mas o Poder Público, que é o responsável por isso tem que querer, tem que agir e se agir, gradativamente as questões voltarão à normalidade.
Fonte: Assessoria