
Pesquisa da Proteste mostra álcool em pães de forma de marcas populares
Algumas marcas não passariam no teste do bafômetro
12 de julho de 2024
Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (11) pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) revela uma descoberta surpreendente: pães de forma de diversas marcas populares contêm álcool em suas formulações. O estudo revela que, se os pães fossem bebidas, alguns produtos teriam teor alcoólico superior a 0,5%, classificando-os como alcoólicos.
Marcas e Teor Alcoólico
O levantamento aponta que cinco marcas de pães de forma teriam teor alcoólico acima do limite legal para bebidas. São elas:
Visconti: 3,37% de álcool
Bauducco: 1,17% de álcool
Wickbold 5 Zeros: 0,89% de álcool
Wickbold Sem Glúten: 0,66% de álcool
Wick Leve: 0,52% de álcool
Panco: 0,51% de álcool
A pesquisa também indica que algumas marcas poderiam não passar no teste do bafômetro, com duas fatias de pão da marca Visconti equivalendo a 1,69 gramas (g) de álcool, conforme índices do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Para efeito de comparação, a quantidade segura de álcool no sangue seria abaixo de 3,3 g. De acordo com a pesquisa, duas fatias do pão de forma da marca Visconti teriam o equivalente a 1,69 g de álcool; da Bauducco, a 0,59 g; e da Wickbold 5 Zeros, a 0,45 g.
Impactos na Saúde
A pesquisa da Proteste alerta que a ingestão recorrente de álcool, mesmo em pequenas quantidades, pode ter efeitos prejudiciais, especialmente para grávidas e lactantes. O estudo destaca que a síndrome alcoólica fetal (SAF), associada ao consumo de álcool, pode causar anormalidades no desenvolvimento neurológico e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.
“Para grávidas e lactantes, a ingestão recorrente de álcool, mesmo que em baixas doses, pode afetar o aprendizado e ocasionar problemas de memória. A síndrome alcoólica fetal (SAF), ocasionada pela ingestão de álcool, é caracterizada por anormalidades no neurodesenvolvimento do sistema nervoso central, retardo de crescimento e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade”, diz o texto da pesquisa.
O estudo mostra ainda que, caso os pães fossem medicamentos fitoterápicos, seria necessário haver advertências nas embalagens de oito marcas brasileiras. De acordo com as diretrizes pediátricas europeias, o valor limítrofe de advertência para a presença de álcool em medicamentos fitoterápicos é de 6 miligrama por quilo (mg/kg) de peso corporal para crianças. Considerando uma criança de 12,5 kg, a taxa limite seria de 75 mg.
Essa quantidade é superada, em uma única fatia de pão, nas marcas Visconti (843 mg de etanol), Bauducco (293 mg), Wickbold 5 Zeros (233 mg), Wickbold Sem Glúten (165 mg), Wickbold Leve (130 mg), Panco (128 mg), Seven Boys (125 mg), Wickbold (88 mg).
De acordo com o levantamento, a contaminação dos pães com o álcool pode ocorrer no momento de a indústria acrescentar conservantes nos produtos. “O álcool usado para diluição do conservante [colocado após o pão passar pelo forno] deve ser evaporado até o consumo em si do pão, mas se houver um abuso na quantidade do antimofo ou em sua diluição, isso pode não ocorrer e ocasionar em um pão com um teor de etanol muito elevado”, diz o texto da pesquisa.
Em nota, a Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, disse que que adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento. “A empresa possui a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida como referência global em boas práticas na indústria alimentícia, e segue toda a legislação e regulamentações vigentes.”
A Agência Brasil tenta contato com os demais fabricantes citados na pesquisa e está aberta para incluir seu posicionamento no texto.