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Foto: Divulgação

Flávio Tavares: “Minha arte é uma expressão natural do meu ser. Se esse ser é político ou não, não cabe a mim julgar”

Artista estreia "Traços de Memórias e Sonhos" no Espaço Arte Brasil, dia 18 de junho

31 de maio de 2024

Flávio Tavares, um dos grandes mestres da arte paraibana, está prestes a lançar sua mais recente exposição no Espaço Arte Brasil no dia 18 de junho. Sob o título de “Traços de Memórias e Sonhos”, a mostra promete uma jornada íntima pela vida e obra deste renomado artista, cuja sensibilidade e profundidade permeiam cada traço de suas criações. Nesta entrevista exclusiva, Flávio Tavares compartilha percepções sobre a inspiração por trás da mostra, sua relação com a cidade de João Pessoa e as temáticas sociais e políticas que ecoam em sua arte.

Como surgiu o título “Traços de Memórias e Sonhos” para a sua nova exposição no Espaço Arte Brasil?

O título foi uma escolha de Daniel da Hora, o curador da exposição. Na apresentação ele foi visceral e biograficamente na história que mistura tanto sonhos como memórias. É uma pluralidade, como um caleidoscópio. Ela não é linear, tem um pouco de retrospectiva icônica minha, e estou muito feliz por estar aos 74 anos mostrando um pouco disso.

Sua obra sempre foi marcada por uma forte ligação com questões sociais e políticas. O que os visitantes podem esperar encontrar nesta exposição em relação a essas temáticas?

Minha arte é uma expressão natural do meu ser. Se esse ser é político ou não, se tem uma temática aparte à política não cabe a mim julgar. Estou numa trajetória onde misturo sempre a minha vida com a minha obra. Existem alguns quadros que têm uma temática fortemente política, mas não panfletária. Essa minha agonia de estar num mundo que se envolve com determinadas tragédias, no qual o planeta tem sofrido uma possibilidade de extermínio grande, tanto na ecologia, como em guerras, não me sinto bem em ficar ausente dessa temática. Por isso que a exposição tem um pouco ou muito disso.

Como a influência da cidade de João Pessoa se manifesta nas obras que serão apresentadas nesta exposição?

Tem uma frase de Tolstoi que fala que ‘pinte a sua aldeia e você pinta o universo’. Quando olho a minha vida ela é ligada entre uma distância muito curta, morei a vida inteira na mesma rua, entre a Lagoa e o Varadouro, isso não chega a 4 km, além de passear por Tambaú, com suas paisagens. A minha vida, meu universo é isso tudo: a cidade, a praia, o mangue, a vida das pessoas, não fujo dessa história, ela está em mim.

“O Reinado do Sol” é uma obra monumental que homenageia João Pessoa. Podemos esperar ver mais trabalhos que exploram essa temática específica da cidade, ou a exposição abrange outras áreas de sua inspiração?

Esta foi uma obra significativa em minha carreira, ela fechou um ciclo muito forte na minha vida, na qual criei uma história ficcional também e não linear que envolve pessoas de renome como Zé Lins do Rego, Augusto dos Anjos e Clarice Lispector. Como disse Picasso: “Nada pior do que se repetir”, então não estou me repetindo, mas dando continuidade, por isso, evidentemente, tem muito da minha cidade.

Como um artista nascido em João Pessoa, e que tem a cidade como inspiração para várias de suas obras, como você espera que os pessoenses recebam essa exposição?

Tenho um público muito fiel em João Pessoa, estou com 50 e poucos anos de pintura, e esse público me acompanha a vida inteira. Espero que as pessoas acompanhem os novos momentos que estou criando. Mais do que agradar, espero que minha arte os convide a refletir sobre a nova realidade que enfrentamos.

Suas criações abrangem uma variedade de mídias, desde pintura até escultura. Podemos esperar ver uma diversidade similar de técnicas nesta exposição, ou você se concentrou mais em algum meio específico desta vez?

Nesta exposição, me concentrei, junto a Daniel, em fazer uma trajetória mais íntima da incursão pelo desenho e suas variantes, entre o prego e o branco até a cor. Embora também haja espaço para esculturas, esta é uma celebração da minha jornada pela pintura e desenho ao longo dos anos. Vou acrescentar coisas do passado e do presente, dos anos 1980 até os dias de hoje e é com muita emoção que faço essa exposição na qual o tempo é o regente de toda essa história.

Fonte: Marília Domingues