logo paraiba total
logo paraiba total
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Semana decisiva para o Fed: riscos aumentam e corte nas taxas de juros pode ser adiado

O relatório de empregos de março - com as contratações superando todas as estimativas e a taxa de desemprego diminuindo - aumentou os riscos de que o início do ciclo de redução das taxas de juros seja adiado

10 de abril de 2024

O relatório de empregos de março – com as contratações superando todas as estimativas e a taxa de desemprego diminuindo – aumentou os riscos de que o início do ciclo de redução das taxas seja adiado. É o que aborda o novo relatório de Macroenomia da hEDGEpoint Global Markets. “Ainda assim, é necessário cautela com as defasagens longas e outras variáveis da política monetária. Os componentes de emprego das pesquisas ISM indicam fraqueza persistente tanto no setor de serviços quanto no setor industrial. O foco agora se volta para a trajetória da inflação, atualmente um fator mais crítico na função de reação do Fed”, explica Alef Dias, analista de Macroeconomia da hEDGEpoint.

 

De acordo com o analista, “a expectativa é de que o IPC de março (que será divulgado na quarta-feira) mostre uma modesta desaceleração no ritmo mensal do núcleo e da inflação principal para 0,3% no mês – consistente com a meta anual do Fed de 2,0% para o núcleo da inflação PCE”.

 

A ata da última reunião do Fed também será divulgada essa semana e merece atenção. Ela deve revelar como os membros do FOMC (Cômite de Política Monetária do Fed) interpretaram os dados mistos que antecederam a reunião de 19 e 20 de março e o quanto eles consideram convincentes as previsões de “não aterrissagem”.

 

 

Dados de emprego mascara “heterogeneidade” do crescimento entre os setores

Os números das linhas principais do relatório de empregos de março, em geral, surpreenderam positivamente, com as contratações, o total de empregos, a participação e os ganhos semanais superando as expectativas. Isso aumenta as chances de que o Fed continue paciente em sua luta contra a inflação, adiando ainda mais o primeiro corte nas taxas. “Entretanto, os detalhes não foram tão sólidos, com as contratações concentradas em setores acíclicos e o aumento do desemprego em partes da economia. A duração do desemprego aumentou em março, refletindo uma incompatibilidade de habilidades que não pode ser corrigida nem mesmo por um Fed paciente”, observa.

 

Aqueles com habilidades em alta demanda – especialmente em setores acíclicos ou setores que se beneficiam dos gastos das famílias mais ricas – continuam a encontrar trabalho, mas outros podem ser deixados para trás. “Ainda assim, os fortes números das linhas principais inclinam o risco para um ritmo mais lento de corte de taxas este ano. Os empregos cresceram 303 mil em março, acima dos 270 mil revisados para baixo em fevereiro. Isso excedeu em muito as estimativas de consenso de 214 mil”, pontua.

 

E prossegue: “Os ganhos de emprego se concentraram principalmente nos setores de saúde (72 mil), governo (71 mil) e construção (39 mil). O nível de emprego foi pouco ou não se alterou na maioria dos outros grandes setores, incluindo mineração, manufatura, comércio atacadista, transporte e armazenamento, informações, atividades financeiras e serviços profissionais e comerciais”.

 

O aumento no total de empregos reduziu a taxa de desemprego de 3,9% para 3,8%. Os ganhos médios por hora aumentaram a uma taxa mensal de 0,3%, em comparação com os 0,2% revisados para cima em fevereiro.

 

A semana média de trabalho também aumentou: A média de horas semanais trabalhadas atingiu 34,4 (em comparação com 34,3 em fevereiro), aumentando os ganhos semanais médios em 0,6% durante o mês.

 

Dados de inflação devem trazer mais volatilidade

Conforme destacado pelo presidente do Fed, Jerome Powell, em seu discurso de 3 de abril, o processo de desinflação é irregular, e espera-se que o relatório do IPC de março ilustre esse ponto. Depois de dois relatórios de inflação “quentes” no início do ano, o aumento dos preços de energia deve manter o IPC principal pressionado, mesmo com a lenta moderação do núcleo da inflação. “Nas figuras mensais, ambos os dados devem desacelerar para 0,3%. Em uma base anual, isso significa que o índice principal aumentará para 3,3% (em comparação com os 3,2% anteriores) e o núcleo deverá cair modestamente para 3,7% (em comparação com os 3,8% anteriores)”, diz Alef.

 

 

“Por fim, a inflação anual deverá ficar em torno de 3,0% ao longo de 2024 – baixa o suficiente para o Fed começar a reduzir as taxas, mas não o suficiente para encerrar a batalha contra a inflação ainda este ano”, conclui.

 

Ata da reunião de março também merece atenção

É provável que a ata da reunião de março do FOMC explique por que o gráfico de pontos mudou para menos cortes em 2024. Esperamos ver uma discussão sobre as razões por trás da força da economia, incluindo o papel dos fatores do lado da oferta, como a imigração, para impulsionar o crescimento de longo prazo e a taxa de juros neutra de longo prazo.

 

A maioria dos membros do FOMC prevê três cortes nas taxas em 2024, esperando que a inflação continue a se moderar este ano. “Mas a forte demanda sustentada devido ao aumento da imigração e os primeiros sinais de novos problemas na cadeia de suprimentos podem tornar o Fed mais cauteloso do que o normal”, pondera.

 

Conclusão

Os fortes dados do mercado da economia americana divulgados na última semana tiveram um forte impacto sobre as expectativas quanto ao início do ciclo de corte de juros nos EUA. O mercado está praticamente dividido quanto ao primeiro corte em junho, precificando uma chance de cerca de 51% no momento da elaboração deste relatório.

 

Esta semana também trará fundamentos importantes para essa discussão, com a divulgação dos últimos dados de inflação antes da próxima reunião do Fed (em 1º de maio). Caso os dados venham em linha com o esperado, o comportamento recente do mercado aponta para uma alta do yields dos títulos americanos e do DXY no curto prazo, dado que a inflação principal ainda deve acelerar na métrica anual.

 

Contudo, a confirmação de uma desaceleração do núcleo da inflação pode ser um indicativo de que o mercado está mais pessimista do que o necessário com a trajetória inflacionária americana. A ata da última reunião do Fed também deve ser monitorada, pois deve trazer “pistas” importantes sobre os próximos passos da autoridade monetária americana.

 

 

Acesse o relatório completo clicando aqui.

Fonte: Assessoria