Por Novos Futuros – Desenvolvimento e felicidade: um acerto de contas possível
Renata Câmara explora a relação entre desenvolvimento e felicidade e propõe um diálogo sobre o equilíbrio entre progresso e bem-estar
28 de março de 2024
No último dia 20 de março, instituído pela Organização da Nações Unidas (ONU) em 2012 como dia internacional da felicidade, mais um relatório mundial de felicidade é publicado e a Finlândia, pela sétima vez, dando “de lapada”, está no topo do ranking. O Brasil caiu 11 posições em 2023, saindo do 38º para o 49º lugar e a Costa Rica é o país mais feliz da América Latina, na 12ª posição, segundo a pesquisa.
O relatório, que analisa o nível geral de bem-estar das populações de 140 países, possui seis indicadores principais: apoio social, renda, saúde, senso de liberdade, generosidade e ausência de corrupção, conforme desempenho no último triênio, portanto, de 2020 a 2022.
Essa relação entre o desenvolvimento e a felicidade é relativamente nova. Mas como meta humana quase que indiscutível, ela já é pauta para nós mortais desde que o mundo é mundo e os filósofos antigos se debruçaram muitíssimo a questionar este sentimento tão almejado. Tanto, que ultimamente eles têm sido revisitados por muitos educadores, psicólogos e outros profissionais relacionados ao potencial humano.
Nos últimos 30 anos, surgiram vários indicadores da chamada economia da felicidade. Os mais comuns, no entanto, são os índices que visam acompanhar o bem-estar das pessoas que vivem em vários países do mundo, onde a pesquisa da ONU ganhou destaque, além do índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), fruto de outra pesquisa acadêmica que vem evoluindo seu método ao longo do tempo.
O crescimento econômico conquistado pelas nações ao redor do mundo foi criando ideais de felicidade baseados no capital financeiro, no potencial de consumo de bens materiais e imateriais, mas não deu conta de resolver grandes desafios humanitários que impactam na relação do ser humano com o lugar onde vive.
Podemos até ser felizes morando bem, acumulando carros na garagem e viajando pro exterior, mas por que durante a pandemia, por exemplo, até os mais abastados entraram (e muitos não saíram) de quadros de pânico e ansiedade? A sensação de que sua vida estaria por um triz frente a um inimigo invisível, perturbou a psique das pessoas de todas as classes sociais e fez muitos reverem o que contribui, de fato, para uma melhor qualidade de vida e bem-estar consigo e com os outros.
Voltando à pesquisa, curioso é perceber, entre as muitas nuances, que nenhum dos países mais populosos do mundo aparece entre os 20 primeiros do ranking; e que a Costa Rica, um dos países menos prestigiados da América Latina bateu na trave e quase fica entre os 10 primeiros, entre 140 países pesquisados.
Assistindo recentemente ao documentário As cinco zonas azuis, fruto da pesquisa do escritor norte-americano Dan Buettner, onde se concentram o maior número de pessoas centenárias do mundo, está lá a região de Nicoya, exatamente na costa pacífica da Costa Rica. Tem as taxas mais baixas de mortalidade na meia-idade do mundo e a melhor dieta de longevidade da história. Nicoya carrega a herança indígena dos chorotega, agricultores de subsistência que levavam uma vida com pouco estresse.
A felicidade pode até não ter um segredo único para alcançá-la e haver muitos ideais do seja este sentimento para diferentes pessoas e povos. Mas parece que o ranking da ONU dá pistas de que a balança entre desenvolvimento e bem-estar humano está pendendo mais para o lado dos lugares onde o jeito de viver do passado está dando um jeito de sobreviver no presente. E pode até ser uma boa receita pra viver bem no futuro.
Sobre Renata Câmara
Graduada em Comunicação Social, com MBA em Marketing (FGV) e Mestrado Profissional em Jornalismo (UFPB). Pós-graduanda em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular (PUC/RS). Atualmente, é analista de Educação Empreendedora no Sebrae Paraíba.