Arlindo Menoncin: “Quando você não se propõe a conhecer o vinho brasileiro, não é única e exclusivamente um preconceito, é uma falta de conhecimento”
Produtor de vinho artesanal afirma que a qualidade da uva é a chave para entrega de um produto de qualidade, seja de que país for
28 de fevereiro de 2023

Criador do Cão Perdigueiro
A insistência da esposa no “vamos produzir um vinho”. O trabalho de artistas na produção dos rótulos. O amigo que adquiriu o produto e o inscreveu em um concurso. A caça incansável do enólogo e sommelier pelas melhores uvas. Por trás de tudo isso, o sucesso dos vinhos Cão Perdigueiro, criado por Arlindo Menoncin e produzido sem que o mesmo tenha vinhedos e/ou vinícolas.
Natural de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, Arlindo é um profissional de destaque como o criador do Cão Perdigueiro, um vinho bastante saboroso, que contou com uma degustação inédita em João Pessoa, no restaurante Chez Nany, charmoso local do bairro Altiplano. O Paraíba Total aproveitou a oportunidade e conversou com ele, que é referência no campo da enologia e sommeleria. Durante a conversa, Arlindo falou sobre produção, planejamento, expectativas e trouxe para o bate-papo sua opinião acerca do mercado de vinhos brasileiros, sobretudo no Nordeste.
A entrevista completa você confere a seguir:
O Nordeste tem uma produção de vinho de qualidade, mas ainda tem pouco consumo. Qual a sua leitura sobre essa afirmação?
Bom, eu acho que é um mercado em ascensão, visto que ano a ano vem tendo um crescimento. É um crescimento ainda pequeno, mas que tende a crescer ano a ano. Principalmente, por um movimento que vem acontecendo não só no vinho, mas na gastronomia também. O grande mestre Alex Atala, que modificou a gastronomia brasileira, abriu esse movimento, e outros chefs passaram a valorizar o que é o ingrediente brasileiro. Obviamente que isso acontece nos grandes centros, como boa parte desses movimentos. Com certeza, vai crescer muito no restante do Brasil, não só no Nordeste. Aos poucos, isso já vem acontecendo, com ampliação das informações sobre os produtos e distribuidoras mais acessíveis.
Mas ainda é muito pequeno o consumo de vinhos no Nordeste. Por que isso acontece?
Em relação ao Nordeste em quanto uma região produtora, eu acho fenomenal! Quanto mais produtores a gente tiver espalhados pelo Brasil mais vai ter esse movimento de valorização do vinho brasileiro. Acredito que as pessoas que trabalham com a gastronomia têm que olhar o vinho brasileiro também com outros olhos. Eu sei que a gente vai falar de negócio, que ele tendo determinados vinhos ele vai ter uma margem de lucratividade maior, tem uma série de fatores que vai influenciar nessas argumentações, mas vamos pensar no seguinte: quantas pessoas estrangeiras a Paraíba ou outros estados do Nordeste não gostaria de provar o produto brasileiro. Visto que eles vêm pra cá e são apaixonados pela caipirinha, pela cachaça e porque não saber que no Brasil também se faz vinho de norte a sul? Recentemente o Vale do São Francisco recebeu a indicação de procedência única no mundo, então é algo que não tem como a gente não valorizar, sabe?
Existe um pouco de preconceito e/ou desconhecimento do público consumidor brasileiro, em relação aos vinhos produzidos no país?
Eu acho que mais desconhecimento do que preconceito, porque as pessoas, às vezes, nem se proporcionam conhecer. Então, quando você não se propõe a conhecer, não é única e exclusivamente um preconceito, é uma falta de conhecimento.
Vamos falar agora dos vinhos que começaram como uma brincadeira e hoje é sucesso: o Cão Perdigueiro.
Bom, a gente buscou esse link do que é o cão perdigueiro como caça para o trabalho que a gente faz, que é de caçar as melhores uvas. A caça é feita em vários lugares, em várias regiões, em vários estados. É uma logística complicada, porque são mais ou menos uns dez mil quilômetros por mês, no período de colheita. Mas é muito gratificante porque você identificou qual é a melhor uva daquela localização. Por exemplo, o Sauvignon Blanc, a gente busca em regiões de altitude com clima frio. Enfim, vai depender muito de cada variedade para escolher o local certo porque ela tem que estar adaptada àquele microclima. Já com relação ao futuro, o planejamento é continua com esse trabalho de produzir sempre quantidades pequenas, até porque essa quantidade pequena de produção está diretamente ligada a nossa intenção de ter uva de qualidade. A gente vai ao produtor, seleciona a uva no vinhedo e não dá pra pegar qualquer uva. Então o plano é seguir sempre ofertando o vinho com a melhor uva e buscando variedades.
Quem quiser experimentar os vinhos Cão Perdigueiro, como faz?
O nosso contato é único e exclusivo pelo Instagram, @caoperdigueiro. Tudo começou única e exclusivamente com isso e é assim até hoje. O cão perdigueiro é um sucesso, tem um cunho comercial e é resultado de um trabalho que eu e a Vivian (a esposa) fazemos. Nós não estamos em todos os estados do Brasil, mas estamos presentes em todas as regiões e levando o Cão Perdigueiro a todos os brasileiros