Autocobrança em excesso: Veja como esse hábito silencioso pode afetar a saúde mental no trabalho
Psicóloga e especialista em RH da Roots Talent alerta empresas e profissionais para os riscos da cultura da alto desempenho a todo preço
15 de julho de 2025
A exigência constante por resultados, metas e excelência tem um lado oculto que nem sempre é percebido de imediato pelas empresas e profissionais: o impacto da auto cobrança e do perfeccionismo exacerbado. Para a psicóloga Márcia Peixoto, especialista em RH e diretora da Roots Talent, esses dois comportamentos, quando persistentes e excessivos, podem deixar de ser uma virtude e se tornar sabotadores no ambiente corporativo. “Autocobrança e perfeccionismo tendem a ser prejudiciais no decorrer do tempo. Não fazem bem à saúde mental e emocional”, alerta a especialista. Ela explica que, embora muitas vezes vistos como características de profissionais comprometidos, esses traços podem se transformar em gatilhos para quadros de ansiedade, Síndrome de bournout e até depressão.
De acordo com a instituição ISMA, (International Stress Management Association), 69% dos trabalhadores brasileiros sofrem de estresse elevado no ambiente corporativo — o segundo maior índice global, atrás apenas do Japão. Cerca de 30% estão com burnout, e mais de 288 mil licenças médicas foram concedidas por transtornos mentais em 2023, um aumento de 38% em relação ao ano anterior.
Entre os principais sinais de alerta, estão o cansaço extremo, a queda de produtividade e o desânimo constante. “Quando o profissional começa a perceber que está se cobrando demais e ainda assim sente que nada é suficiente, é hora de ligar o sinal vermelho”, afirma Márcia.
Para enfrentar o problema, segundo ela, a primeira etapa é a conscientização. “O profissional precisa identificar que essa característica está presente e reconhecer os impactos que ela traz. O processo terapêutico é fundamental para aprender a lidar com essa exigência interna de forma mais saudável”, recomenda.
Lado da empresa
As empresas, por sua vez, também têm um papel importante nesse processo. “É preciso criar uma cultura organizacional que reconheça os riscos dos excessos e promova o equilíbrio emocional. Isso pode ser feito por meio de ações de sensibilização e acolhimento”, pontua a psicóloga.
Para Márcia, ferramentas como o teste dos sabotadores ajudam a identificar esses padrões comportamentais nos profissionais. “O equilíbrio precisa ser parte do planejamento estratégico — tanto para o sucesso profissional quanto para o bem-estar das equipes”, orienta Márcia.
Confira algumas orientações para empresas e profissionais:
Para Colaboradores
1. Reconheça seus limites (e os respeite)
Perfeccionistas tendem a ultrapassar seus próprios limites físicos e emocionais. Aprender a dizer “não” e entender que nem tudo precisa ser impecável é fundamental para manter a saúde mental e o desempenho sustentável.
2. Reestruture a autocrítica
Em vez de focar no erro ou naquilo que “faltou”, pratique o olhar para os aprendizados e avanços. Substituir o pensamento “não foi bom o suficiente” por “fiz o melhor que pude com os recursos que tinha” pode reduzir significativamente o estresse.
3. Celebre pequenas conquistas
Quem se cobra demais costuma minimizar o que já realizou. Criar o hábito de reconhecer as próprias vitórias — mesmo as pequenas — ajuda a reforçar a autoestima e a diminuir a ansiedade por resultados perfeitos.
Para empresas:
1. Promova uma cultura de feedback construtivo, não de cobrança tóxica
Ambientes que só valorizam metas ambiciosas e não reconhecem o esforço ou o processo incentivam o perfeccionismo nocivo. Fomentar conversas transparentes e acolhedoras ajuda a equilibrar expectativa e realidade.
2. Dê o exemplo com lideranças mais humanas
Gestores que mostram vulnerabilidade, admitem erros e valorizam o equilíbrio vida-trabalho contribuem para que suas equipes façam o mesmo. A mudança de cultura começa de cima.
3. Incentive pausas e rituais de autocuidado no trabalho
Permitir e estimular momentos de descanso, práticas de mindfulness ou programas de apoio psicológico reduz o nível de autocobrança crônica e melhora a performance a longo prazo.