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Foto: divulgação

Lima Filho: “Temos que fazer um trabalho de renovação de quadro, de buscar pessoas que não tiveram essa experiência cultural”

Presidente da ASQUAJU-CG e Patrimônio Vivo da Paraíba fala sobre os desafios das quadrilhas juninas, o impacto do Coquetel Molotov Negócios e a urgência de autonomia financeira

22 de maio de 2025

O Coquetel Molotov Negócios emergiu como um espaço estratégico para discutir a sustentabilidade dos grandes eventos culturais brasileiros, reunindo lideranças do Carnaval, do Boi de Parintins e das quadrilhas juninas. Nesse contexto, Maximino Ferreira de Lima Filho — mais conhecido como Lima Filho — destaca-se como voz fundamental no diálogo sobre preservação e inovação das tradições populares.

Presidente da Associação das Quadrilhas Juninas de Campina Grande e Região Agreste (ASQUAJU-CG), cordelista e reconhecido como Patrimônio Vivo da Paraíba, Lima Filho acumula três décadas de atuação no movimento junino. Sua trajetória reflete tanto o profundo conhecimento das manifestações culturais quanto a busca por modelos de gestão que garantam sua continuidade.

Nesta entrevista, ele aborda os desafios contemporâneos das quadrilhas — desde a captação de recursos até a formação de novas gerações de brincantes —, compartilhando insights do Coquetel Molotov Negócios e propondo caminhos para conciliar tradição e viabilidade econômica.

Quantas quadrilhas estão associadas à ASQUAJU-CG hoje, e qual o impacto desse número para a cultura local?

Hoje nós temos 14 quadrilhas de Campina Grande e 16 quadrilhas da região agreste e temos 3648 componentes de quadrilhas juninas associadas.

O Coquetel Molotov Negócios trouxe debates importantes sobre gestão cultural. Na sua visão, quais foram os principais aprendizados desse evento para as quadrilhas?

O evento trouxe além das experiências e vivências de outros festejos como o boi de parintins, como a gerente de marketing da Mangueira, o representante do Galo da Madrugada, ele trouxe os exemplos de como essas pessoas estão gerindo os seus festivais, os seus espaços e nos trouxe um alerta para que buscássemos as soluções iguais a que eles já vêm vivenciando em termos um espaço próprio, patrocinadores. O Coquetel Molotov Negócios, como o próprio o nome diz, nos alerta para buscarmos uma nova forma de negócios, fugirmos mais do apoio público e buscarmos mais as parcerias e os editais particulares. Saimos daqui com uma certeza, uma clareza de que cada vez mais, nós, os fazedores de culturas de Quadrilha juninas, precisamos ter um espaço próprio com patrocinadores próprios e fugirmos mais dessa coisa do público. 

Um dos temas em discussão foi a dificuldade das quadrilhas femininas. Quais são as maiores dores que elas enfrentam hoje, e como a associação pode ajudar?

Temos 15 presidentes em quadrilhas nesse laboratório e a dor maior, além da financeira, que é um trabalho que a associação tenta sanar, é a falta de novos brincantes, de novos dançarinos. Estamos vivendo uma geração de telas que não quer vivenciar a cultura popular. Precisamos fazer um trabalho de renovação de quadro, de buscar pessoas que não tiveram essa experiência cultural, porque antes você brincava de quadrilha junina na escola e quando chegava na nossa já tinha uma experiência mínima com quadrilha junina. Agora o menino chega na nossa quadrilha dançarino de TikTok. Quando vamos ensinar a música de Gonzaga, Alcimar Monteiro, as danças tradicionais, que é preciso ter um casamento matuto dentro da quadrilha, ele não quer dar muita atenção e não quer ficar. Por isso, a dificuldade maior das quadrilhas juninas hoje é a gestão de pessoas.

Você mencionou o ‘ego’ como um desafio nas quadrilhas. Como equilibrar a competitividade dos festivais com a essência coletiva da cultura junina?

É justamente a questão do ego. Ele começa quando eu quero ser a rainha da quadrilha, quando eu quero ser o casal de noivos da quadrilha, os destaques da quadrilha e quando eu quero ser campeão do festival. A quadrilha que vem vencendo mais festivais começa a ter uma quantidade maior de dançarinos, porque o menino que tá dançando na quadrilha aqui perto todo ano, chega uma hora que ele quer ser campeão. Então, além de de gestão de pessoas, temos que gerenciar o ego das pessoas também. E estamos vivendo uma geração que não ouviu “Não”, que não tem a educação familiar para dizer “Você não pode isso, você não deve fazer isso”. E quando setamos gerindo essas pessoas dentro do nosso espaço, dentro do nosso quadrilha, eu disse: “Olha, a gente não ganhou, mas a gente participou do festival”. Então, eu gosto de dizer que o festival é um mal necessário. Se não tivesse, para que os egos aparecerem, não teríamos mais nenhum movimento de quadrilha junina existindo.

Além do Molotov Negóccios, Campina Grande já promoveu eventos semelhantes para fortalecer as quadrilhas? Como foi essa experiência?

Temos em Campina Grande um movimento parecido com esse, mas voltado apenas para marcadores de Quadrilhas juninas, e foi um evento de formação. Trouxemos fonoaudiólogos e jornalistas, porque o marcador é o cara que vai fazer a dicção da Quadrilha. E muitas vezes ele falava uma palavra errada, uma frase errada. Então tivemos essa preocupação de formação profissional. Também fizemos para rainhas, noivaos e destaques das quadrilhas. A diferença é possamos, por meio dos networks que fizemos aqui, buscarmos outras formas de negócios.

Você se identifica como um ‘homem de soluções’. Qual seria o caminho para as quadrilhas conquistarem mais autonomia financeira e cultural?

Passei 10 anos fora da Associação de Quadrilhas Juninas, justamente por ter um pensamento mais empreendedor. O presidente de Quadrilha era mais artista que empreendedor, a preocupação é mais de fazer a quadrilha e eu, enquanto gestor da Associação, sempre busquei soluções financeiras para que ele fizesse a quadrilha junina. Nisso desenvolvemos um produto turístico chamado Quadrilhando, que era uma imersão turística fora do São João, para o turista vivenciar, uma vez por mês, a experiência junina. Cada quadrilheiro precisava ser um empreendedor e ia lá vender seus produtos, ingressos do evento, e não entenderam isso, por serem artistas. Eles queriam danaçar, se divertir, brincar. E eu também não entendi isso, por isso me afastei e passei 10 anos longe. Agora voltei, com a mesma visão empreendedora. Modifiquei um convênio com a prefeitura de R$ 300 mil para R$ 350 mil e outro com uma casa de espetáculos no valor de R$ 390 mil. Saímos de R$ 350 para R$ 740 mil com essa visão empreendedora. E a solução que eu vejo não é dançar nem em espaço público, nem privado, mas termos nosso espaço, vendemors a cota de patrocínio e ingresso. Só vamos sanar nossas dores quando a gente solucionar a conquista de um espaço próprio da Associação de Quadrilhas.

O Sebrae já foi um parceiro nessa jornada? Como a capacitação empreendedora pode salvar as tradições populares?
Sim, o Quadrilhando, por exemplo, é um projeto que a gente conquistou por meio do Sebrae que nos levou à LIESA que é a Liga das Escolas de Samba do Rio e lá quando vivenciamos o que eles fazem, criamos o Quadrilhando aqui.

Fonte: Yasmin Rodrigues